segunda-feira, novembro 03, 2008

Acordo ortográfico, o novo euro!

Portugal já sofreu um processo semelhante a este, há uns anos, quando o País aderiu ao euro, abandonando o escudo. Assim, é de prever que: - Tal como os comerciantes no dia 31 de Dezembro de 1999 vendiam os cafés a 50 escudos e, um dia depois, já estavam a vendê-lo a 50 cêntimos, é de prever que as operadoras de telecomunicações também aumentem o preço das novas palavras, deixando de cobrar, num SMS, uns meros 0,02 cêntimos pela palavra “anti-terrorismo”, e passem a cobrar 0,5 cêntimos pela palavra “antiterrorismo”, o que fará uma enorme diferença na facturação mensal do Ângelo Correia e do Nuno Rogeiro; - Tal como existiu um período de adaptação, durante o qual conviveram o escudo e o euro, também vai haver um período de adaptação, 10 anos, durante o qual os portugueses tanto podem usar a norma antiga do Português como a nova norma, resultante do Acordo Ortográfico. Isto vai novamente causar confusão nos mais idosos, que entregarão as cartas da Caixa Geral dos Depósitos sobre a reforma ao primeiro meliante que lhes aparecer no caminho, para que lhes explique se aquele “saldo atual” é o antigo “saldo actual”; - Por último, é de prever que, tal como milhares de portugueses encheram o Banco de Portugal com notas e moedas de escudo, para serem trocadas por euros, milhares e milhares de idosos e idiotas mansos corram ao Instituto Camões, para trocarem os velhas palavras portuguesas pelas novas palavras brasileiras, exigindo que lhes troquem o “óptimo” pelo “baril”. “As Guerras do Alecrim e da Manjerona” ou “As Guerra do Cacau e da Mandioca”? Muitos temem que o Acordo Ortográfico mude para sempre a maneira como as grandes obras portuguesas são publicadas, com os seus vocábulos adaptados à nova realidade “abrasileirada”. Os brasileiros dizem que nada disso se passará, mas o certo é que o IP descobriu uma edição d’ “Os Lusíadas”, publicada este mês pela “Companhia das Letras”, e os receios confirmam-se, como se pode ver por este excerto do Canto IV, designado na introdução do livro como “A múmia de Belém”… Mas uma múmia de cara de senador, Que ficava na praia, entre a galera, Botou em nós os olho, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada levantando p’ra xúxú, Que nós no mar ouvimos até com o cu, Com um saber que não estava nada mal, Tal prálápápá tirou do peitoral: Já numa edição d’ “Os Lusíadas”, publicada pela Editorial Karl Marx, também se nota que Luanda é um dos grandes beneficiados pelo novo Acordo Ortográfico, como se pode ver pela continuação do Canto IV… Ó glória de generalar! Ó vã kobiça Desta vaidade, a quem chamamos Nhânhâ! Ó mabukuku gosto, kê se tiça Tal como Roma e Pavia (ou, pior ainda, a Casa da Música), o Acordo Ortográfico entre Portugal e o Brasil demorou a ser feito. Desde que foi acordado, em 1991, até que seja ratificado por Portugal, em 2008, decorreram 17 longos anos (os adeptos do Sporting, por exemplo, têm perfeita consciência do que significa uma demora de 17 anos). Para dar uma ideia, se todos os protocolos que Portugal assinou com países estrangeiros fossem assim, Mário Soares tinha assinado o Tratado de Adesão de Portugal à CEE e, 17 anos mais tarde, António Guterres tinha ratificado a entrada de Portugal na União Europeia. Lamentamos, mas há coisas que são feitas na altura em que se pensa nelas ou já não adianta fazê-las, anos e anos mais tarde, como formar banda de rock, ratificar um acordo ortográfico ou, no caso da Teresa Guilherme, ser actriz. Kum’aura popular, k’onra se chama! Kê castigo bué e kê justiça Fazes no peito zugundô kê muito t’ama! Kê zabunko, kê muboguko, kê zabakam’ntas, Kê bukulôlô neles experimentas! Até que, por fim, este é o resultado do novo Acordo Ortográfico em Timor Lorosae, onde encontramos uma edição d’ “Os Lusíadas” na nova norma linguística timorense e onde o Canto IV prossegue assim… Tu what niu disasters you determaineeeee Tu take these kingdoms and this piupleeee? What daingers, what dieths you destine thaiiim Underneath some nooble neeeimeeeee? What promises of kingdoms, and of goold maaineeees, You will make them it so easiliiiii? What glory will you promise theeeem? What storiiiiiis? What triumphs, what applausiiis, what victoriiiiis?
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