sábado, novembro 29, 2008

Eu professor me confesso

Duvido muito que eu seja um professor Muito Bom ou Excelente,
Apenas sou professor há 4 anos e caso alguém se tenha esquecido,
a experiência conta e muito, assim como na vida, em qualquer profissão.

Sou engenheiro de informática e, antes de ser professor,
trabalhei durante 2 anos como consultor na área da Internet na banca.
Também nessa área encontrei "tachos" e
"cantigas" cuja finalidade era meter medo aos recursos humanos para os explorar melhor.
Por acaso ganhava mais, quando que comecei há 7 anos como engenheiro, do que ganho agora.

A convite comecei a dar aulas e realiza-me muito mais esta profissão.
Pessoalmente sinto um retorno muito maior ao poder interferir na aprendizagem e crescimento dos nossos jovens.

Quando comecei ocupei-me com a intensidade e a novidade de
preparar e dar aulas e ainda a responsabilidade de avaliar.
Assim quando o burburinho da divisão das carreiras começou eu não me envolvi muito
porque não estava bem ciente do que se estava a passar.

Senti um grande conforto com muitos alunos porque julgo que,
com a minha ajuda, aprenderam e não só sobre informática.
Senti também dificuldades materiais e organizacionais que expus sempre
ou directamente a colegas e órgãos ou nos meus relatórios de auto-avaliação.

Decidi profissionalizar-me para ser Professor.
Consegui vaga numa Universidade Pública, fiz as cadeiras pedagógicas e o estágio.
Depois saiu uma lei que não acredita nestes cursos. De um Estado que não acredita em si próprio.
E portanto apareceu ainda uma nova divisão na carreira. "Os sem carreira", os precários.

No ano em que fiz o estágio pela universidade
ainda acumulei com 15 turmas numa escola para não viver do ar
porque não tenho dessas subvenções vitalícias dalguns funcionários públicos nomeados.
Turmas de 25 alunos ou 20 quando tinha alunos com graves deficiências cognitivas.
Sempre me pronunciei, como muitos, contra a "inclusão" destes alunos que é apenas economicista.

Tenho-me deparado com necessidades de formação específica e com a sua inexistência.
Tenho-me deparado com a URGÊNCIA e a INEXISTÊNCIA de assistentes sociais nas escolas
para um trabalho com as famílias menos estruturadas.

E deparo-me agora com um exemplo de democracia dado por muitos colegas
e ao qual junto
onde os profissionais exigem respeito.
Eu exijo respeito.
Eu não admito que alguém, mesmo que seja meu chefe,
me venha culpar pelos males da educação no país.
Muito menos quando não há uma autonomia real pois tudo é centralizado
e muito menos quando NUNCA ouve o coro de propostas e chamadas de atenção para problemas.
Quando o meu chefe supremo anda a "vender" números aos outros departamentos
e a culpar os seus recursos humanos da sua má gestão.

Eu recuso esta avaliação punitiva em nada construtiva,
culpabilizadora, economicista e manipuladora de resultados.
Eu exijo uma avaliação que procure melhorar o sistema,
que me dê formação necessária, que me escute e que me puna se for o caso.
Eu recuso este clima totalitário nas escolas.
E julgo-me nesse direito porque o Estado também é meu.
E eu não estou no serviço público através de nenhum partido,
nem a enriquecer.
Estou é farto!
Não de ser professor,
mas do que andam os chefes dos professores a fazer.


Pedro Quintas
Professor em Braga

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