terça-feira, novembro 04, 2008

“Manifesto” pela Dignidade…

Uma expressão da vontade indómita e dos sentimentos mais lídimos dos professores da Escola Secundária Raul Proença

Proferir a palavra dignidade é exprimir um conceito cujo significado e sentido profundo se torna quase indizível, porque não se trata de uma simples palavra que se proclama, mas de uma realidade ética e moral que se impõe, no íntimo de cada um de nós, como um inexpugnável baluarte de uma natureza humanizada e inexoravelmente marcada pelo sentido do Eu e do Outro. Do Outro como minha imagem e semelhança sentida e vivida nos mesmos apelos à liberdade, à solidariedade e à responsabilidade de que é feita a cidadania.
É esta dignidade que está ferida pela indignidade que os responsáveis do Ministério da Educação fizeram recair sobre os professores e a profissão docente culpabilizando-os de todos os erros, aviltando a sua imagem pública, desautorizando-os na sua função educativa, minando-os nas suas convicções, fragilizando-os nas suas relações, esgotando-os nas suas energias, castigando-os com mentiras insidiosas e aprisionando-os num complexo e estranho sistema de avaliação, feito de muitos domínios, numerosos elementos, imensos indicadores e intermináveis descritores.
Em suma, feito de intenções inconfessadas e disfarçadas por uma gigantesca panóplia de critérios, ditos de avaliação, que, pela quase impossibilidade prática de aplicação dos mesmos, mais não permite do que ponderações e quantificações esgotantes e susceptíveis de lançar as escolas, em geral, e a nossa escola, em particular, num estado de confusão ditado pelo facto de os avaliadores e os avaliados serem, simultaneamente, actores e espectadores envolvidos numa miscelânea de papéis, no contexto dos quais os avaliadores sentem o sabor amargo de uma imposição que os torna legalmente competentes, mas não pessoalmente legitimados, e os avaliados sentem a legitimidade para não reconhecer o artificialismo legal que define e estabelece o papel dos seus pares como avaliadores.
Deste modo, sendo esta a realidade de facto e porque dela decorre um ambiente escolar cada vez menos saudável, quer do ponto de vista do estado de espírito dos professores, individual e colectivamente considerados, quer do ponto de vista da disponibilidade psíquica e física necessária à criação das indispensáveis condições para o exercício de uma prática lectiva de qualidade, os professores, reunidos em assembleia, foram unânimes na tomada da decisão estabelecida no sentido de endereçar, aos responsáveis do Ministério da Educação, um pedido de suspensão do actual modelo de avaliação e declarar a necessidade de o mesmo ser repensado e rectificado, em nome da dignidade dos professores e da profissão docente, de modo a não pôr em causa o normal e adequado funcionamento da Escola, para bem de toda a comunidade educativa.

Caldas da Rainha, 3 de Novembro de 2008


Os professores:

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