quinta-feira, novembro 27, 2008

Os professores querem tanto a avaliação como os não-professores

Escrevi este texto como comentário a um post dum blog. Acabou por ser mais do que um comentário. Como pode ser lido mesmo tirado do contexto onde foi colocado, aqui o deixo também.

Para Portugal, nos últimos anos, a referência para tudo é a Europa. Em matéria de avaliação dos professores parece que não pode ser assim. Porquê? 

Já não sei o que é mais absurdo, se a criação deste modelo pelo Ministério se as alternativas que tenho visto, propostas por professores, em que o esquema de pensamento é rigorosamente o mesmo. 

Eu entendo que haja pessoas que não percebam que ensinar visa antes de mais criar seres humanos, coisa que não é mensurável de maneira nenhuma. Não entendo que haja gente que deveria saber pensar, como os jornalistas, e que não entendem isso.

Falei com uma amiga, jornalista, que me disse que os sindicatos é que estão irredutíveis, pois as cedências da ministra satisfizeram os professores. 

Quando lhe disse que não é bem assim, que de facto as coisas têm sido exactamente ao contrário, quando lhe disse que os professores não estão propriamente contra uma avaliação mas contra esta enormidade que não existe em mais lado nenhum, pareceu não entender do que eu estava a falar. 

Quando lhe pedi para me referir um país onde exista uma coisa deste género, não o soube fazer, tal como não soube indicar as razões porque acha que este modelo deve ir para a frente. Não ser capaz de indicar razões não a impede, no entanto, de continuar a achar o que acha. 

Vivemos num mundo onde os argumentos deixaram de ter valor e as convicções, vindas não se sabe de onde, parecem falar nas pessoas como se estas fossem meros veículos para a sua propaganda, em vez de autores dessas ideias. 

Os «argumentos» mais utilizados para defender este modelo têm sido: 

1. Antes não havia; 

2. Nas outras profissões há avaliação; 

3. É necessário para o sucesso dos alunos. 

Então o facto de antes não haver (o que nem corresponde à verdade) constitui prova de que este é bom? Que lógica é esta?

Depois a ideia de que os professores não querem ser avaliados... Os professores não têm de querer nem deixar de querer ser avaliados. Os professores têm de ensinar! Os professores querem tanto ser avaliados como o querem os não-professores. É exactamente igual. 

Quem tem de decidir se os professores são avaliados é o ME, se o ministério decidir «sim» são, queiram eles ou não. «Ser ou não ser», não lhes diz respeito. Mas, se é decidido que vão ser avaliados, eles têm o direito de se manifestar sobre aquilo a que vão estar sujeitos. Não só têm esse direito, como têm esse dever, enquanto seres humanos e enquanto professores, se a sua dignidade e a qualidade da sua actividade estiver em causa. 

É no mínimo de má fé pensar-se que os professores, quando se manifestam, no fundo o que querem dizer é que não querem ser avaliados. Os professores estão bem conscientes que com qualquer modelo de avaliação, a esmagadora maioria teria BOM. A grande maioria dos professores não tem qualquer medo da avaliação.

E os milhares de professores que foram embora? Foram embora porque temem a avaliação? Porque não querem ser penalizados por ela? E então vão embora, fogem da penalização da avaliação para serem penalizados no ordenado? No pior dos casos o que vai acontecer a um mau professor será não progredir, mas muitos dos que se vão embora já estão no topo. Porque se manifestam uns, por que preferem perder dinheiro outros? 

A questão é que este modelo exige um desgaste imenso, um descentrar da actividade do professor do que é essencial, ensinar, para se centrar na sua avaliação.
http://cogitusinterruptus.blogspot.com/

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