A intransigência demonstrada pelo governo – ao declarar apoio sem reservas à ministra da Educação num conselho de ministros extraordinário, depois de mais de 90% dos professores terem estado em greve – revela a percepção de Sócrates de que uma cedência seria uma derrota e uma derrota enfraqueceria toda a política do governo.Mais uma boa razão para dar todo o apoio à luta dos professores.A luta dos professores tem o condão de estar a isolar o governo. Mesmo a oposição de direita, que naturalmente deveria neste caso cerrar fileiras em torno do governo, aponta já a demissão da ministra como a maneira de evitar males maiores. Isto acontece não só por razões de ganhos partidários mas sobretudo porque a luta dos professores chegou ao ponto em que pode escapar a controlo – no sentido em que a reivindicação profissional que tem por centro a avaliação está a ser ultrapassada pela luta política contra o governo. Nenhuma luta recente chegou a este ponto. Deve-se isto à grande mobilização e ao carácter maciço que a movimentação foi ganhando, e à resistência que demonstrou perante os golpes do governo. Muito para além da capacidade directa de mobilização das estruturas sindicais, o movimento agregou a quase totalidade dos professores, como se viu pelas manifestações nacionais, pelas acções locais, pela adesão à greve – que terá sido a maior dos últimos 20 anos. Não resta portanto apoio significativo à teimosia do governo.Mesmo as paralisações dos camionistas e dos pescadores no início do Verão foram mais facilmente toleradas pelo governo e rapidamente debeladas com uns quantos subsídios. De facto, há no caso uma diferença importante: é que, então, tratava-se de dar resposta às exigências de um sector do patronato que trazia a reboque os respectivos trabalhadores; e agora trata-se de fazer frente a uma reivindicação de um importante sector de assalariados do Estado.Além disto, existe o risco de os estudantes entrarem também em acção, como se viu pelas greves que realizaram há umas semanas e pelas paralisações que continuam a verificar-se, prontamente reprimidas pela polícia. Com tal apoio, uma vitória contra a avaliação dos professores poderia redundar numa marcha contra o sistema de ensino – e aí o assunto extravasava abertamente para a política do governo.Contra o que diz o BE (Ana Drago na RTP1 em 4 de Dezembro) a intransigência da ministra não é “incompreensível” – é perfeitamente compreensível se entendermos que pode ser a única via de ainda tentar vencer os professores, arrastando a luta e procurando cansá-los. É a maneira que o governo encontra de evitar uma derrota política. A luta dos professores poderá, com efeito, dar um sinal da vulnerabilidade do governo que desperte outras lutas. Outros sectores de trabalhadores, desanimados por derrotas sucessivas, ou por resistências sem ganhos visíveis, podem esperar essa prova de que a acção de massas tem a capacidade de os fazer ganhar onde até agora têm perdido.
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