domingo, dezembro 14, 2008

Podemos conquistar os Pais para o nosso lado?

Se considerássemos os pais dos alunos como um todo, a resposta seria obviamente "não". Não há unanimidades, e tentar fabricá-las é um exercício fútil.Acontece, porém, que os pais dos nossos alunos não são um grupo homogéneo: são gente diferenciada, com interesses diferenciados, valores diferenciados e necessidades diferenciadas. O apoio que eles nos possam vir a dar depende muito do que lhes pudermos dar em troca, e infelizmente não é possível dar tudo a toda a gente.Há um grupo de pais que está naturalmente do lado dos professores mas é, infelizmente, minoritário: refiro-me àqueles para a qual o ensino é a função essencial da escola, o conhecimento um valor essencial da vida, e que conhecem suficientemente a "Pedagogia de Estado" em vigor há trinta anos (e hoje protagonizada por Maria de Lurdes Rodrigues) para saberem que ela é antagónica ao ensino e ao conhecimento. Em relação a este grupo, o risco que corremos não é o de eles se porem contra nós: é o de pura e simplesmente se desinteressarem de tudo o que tenha a ver com a Escola Pública, porem os filhos em colégios privados que ensinem bem (também há os que se podem dar ao luxo de ensinar mal porque têm outro peixe para vender) e não se porem, nem do nosso lado, nem do lado do Ministério.Há um segundo grupo de pais que é o mais numeroso e que se encontra num dilema que divide interiormente cada um dos seus membros: por um lado, dão-se conta que a função da escola é ensinar, por outro precisam desesperadamente de quem lhes guarde os filhos, porque trabalham muito e infelizmente não se podem dar ao luxo de trabalhar menos. Conquistar este grupo é extremamente difícil por várias razões: primeiro, porque seria preciso convencê-los de um facto que, embora verdadeiro, é muito difícil de engolir: o de que não se pode ter tudo, que há no mundo escolhas difíceis, e que é materialmente impossível ter uma escola pública que desempenhe bem as funções de ensinar e de guardar. O bom desempenho duma destas funções implica necessariamente o mau desempenho da outra. Qual é o pai sobrecarregado de trabalho que interioriza isto, mesmo sabendo intelectualmente que é verdade?A segunda razão por que é difícil conquistar este grupo de pais é o facto de a maior parte não estar informada da existência da "Pedagogia de Estado" que referi acima, e muito menos do seu carácter profundamente pernicioso. Para terem esta informação teriam que ter um conhecimento minucioso da legislação educativa, dos programas, das teorias pedagógicas e dos currículos, e este conhecimento não lhes pode ser exigido. Sabem que algo está mal, muito mal, no nosso sistema educativo; querem saber de quem é a culpa; e concluem, muito naturalmente, que é dos professores. Não lhes podemos levar isto a mal: qualquer um de nós, dispondo da mesma informação, chegaria à mesma conclusão.A terceira razão pela qual este grupo é difícil de conquistar está no facto de a mentalidade portuguesa não dar grande valor ao conhecimento. Obrigados a escolher entre a escola que ensina e a escola que guarda, muitos deles escolherão, mesmo que a contragosto, a escola que guarda. Ou então, se puderem, entregarão os filhos às escolas privadas para as quais é materialmente possível desempenhar ambas as funções (e por isso mesmo são tão caras). No aspecto da guarda dos filhos, têm razões legítimas para estarem agradecidos à ministra: este benefício da sua política é visível já hoje, enquanto a catástrofe civilizacional que ela acarreta só será evidente daqui a décadas, quando a senhora já tiver morrido, depois de recebidas as condecorações da praxe.Resta um terceiro grupo, felizmente minoritário. É um grupo que está perdido para nós à partida e que nem sequer devemos tentar conquistar: aqueles que têm uma profunda necessidade psicológica de odiar e que agradecem à Ministra a dádiva que lhes fez dum objecto plausível para esse ódio: os professores. Em relação a este grupo, não há nada a fazer a não ser isolá-lo na medida do possível e esperar que não faça demasiados estragos nas hipóteses que Portugal ainda tem de vir a ser um país decente.
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