A ideia da presidente do PSD de suspender a democracia por seis meses para se poder fazer “reformas verdadeiras”, foi atacada pelos adversários como uma falta de sentido democrático, foi disfarçada pelos adeptos como uma “ironia” e foi motivo de piadas por parte dos humoristas. Em todos os casos, o assunto foi tratado como uma questão da pessoa de Ferreira Leite.
Mas se recordarmos umas quantas declarações e actos recentes da cena política portuguesa teremos outro panorama. Ferraz da Costa, ex-patrão da CIP, defendeu a redução dos salários reais em 30%. Vítor Constâncio, presidente do Banco de Portugal, culpou os subsídios de desemprego pelo aumento do desemprego de longa duração. O presidente da Associação das PME ameaçou despedir 40 mil contratados a prazo se o salário mínimo aumentasse. Paulo Portas assanha-se contra o rendimento mínimo de inserção. A polícia visita as sedes dos sindicatos para contabilizar de véspera grevistas e manifestantes. O novo Código do Processo Penal dá mais escapatórias ao grande crime económico ao abreviar as investigações. As rusgas policiais a bairros de pobres e de imigrantes faz as vezes de campanha contra o crime organizado. O Estado corta nas verbas sociais e aumenta os gastos com a defesa e as polícias. Especuladores e ladrões à beira da falência são sustentados com os milhões recolhidos na “luta contra o défice”.
A afirmação de Ferreira Leite não soa afinal tão isolada. Figuras variadas de uma mesma classe vão revelando, de diversos pontos de vista, a mesma aversão aos assalariados. A acção do governo de Sócrates é a resultante prática desta frente unida. Uma resposta à altura exige que os trabalhadores entendam este confronto como aquilo que é – uma guerra de classes que exclui qualquer comunidade de interesses. Sem isto estar claro, continuaremos a perder terreno.
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