Nos últimos dias, a violência policial irrompeu nos noticiários. Não porque ultimamente tivesse diminuído o constante assédio da polícia aos bairros “sociais”. Pelo contrário, este resultou no assassinato à queima-roupa do jovem “Kuku”, Edson Sanches, 14 anos, do Bairro da Laje, Amadora, a 5 de Janeiro, por um agente da PSP, na sequência de uma perseguição automóvel. O Bloco questionou o governo sobre este assassinato.
É nos bairros ditos "sociais" das periferias das grandes cidades que vivem as minorias étnicas e grande parte da população mais pobre. Tem-se agravado o fosso de desigualdade que separa estas comunidades e as exclui na sociedade. Nelas, a taxa de desemprego duplica ou triplica em relação à taxa nacional, a escola pública reproduz e reforça as desigualdades com a discriminação espacial, reagrupando as mesmas categorias sociais no mesmo espaço, os serviços públicos primam pela escassez ou pela ausência. À violência quotidiana, feita de todas estas precariedades, acresce a criminalização generalizada da juventude e o abuso policial.
A intervenção que procura enfrentar estas dificuldades tem sido essencialmente de cariz assistencialista ou comunitarista e parte de organizações para-públicas locais, caritativas e associativas. Muitas dessas experiências são essenciais no dia-a-dia de muita gente e devem ser consideradas por quem procura a resposta política que faz falta. Essa resposta concebe a luta contra a discriminação como parte de uma luta global contra a injustiça. Se é evidente que merecem solidariedade todas as lutas contra as discriminações e os abusos sobre as minorias, a nossa tarefa maior é de contribuir para uma estratégia convergente, que traga os jovens das periferias ao combate que é de toda uma geração e de toda a classe trabalhadora: contra a pobreza e precariedade social, pelo direito a ter direitos, e contra a resposta policial e racista – a que o capitalismo melhor sabe dar – nas periferias mais afectadas pela exclusão.
Os abusos policiais são a última cena de um filme bem longo. Ora, é necessário radicalizar estas lutas, apontando o verdadeiro inimigo – um sistema social que explora e que discrimina os mais explorados, @s imigrantes e seus filhos e filhas. Isolada, a revolta de milhares de jovens da periferia, sem perspectivas de vida e retratados como um perigo público, torna-se impotente. A uma existência guetizada, não se pode juntar a guetização da resposta. Em tempos de crise generalizada, a esquerda anti-capitalista propõe outro caminho, uma estratégia de combate social que traga todos juntos os que estão a pagar com as suas vidas uma crise que não fizeram.
http://infoalternativa.org/spip.php?article477
Sem comentários:
Enviar um comentário