PSP explica que apreensão de livros foi feita como «medida cautelar»
O comando distrital da da PSP de Braga explicou que a apreensão de livros com a capa de uma mulher nua foi feita por uma «medida cautelar». Por seu lado, o ex-director da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Miguel Arruda, diz que não se pode considerar que haja pornografia neste caso.
O comando distrital da PSP de Braga esclareceu, esta terça-feira, que a apreensão de cinco exemplares de um livro cuja capa reproduzia um quadro de um pintor francês de 1866 com uma mulher nua exposto no Museu d'Orsay, em Paris, foi feito por uma «medida cautelar».
Ouvido pela TSF, o subintendente Henriques Almeida explicou que esta imagem foi considerada por alguns como «não apropriada para ser exposta» numa feira de livros que «estava a ser frequentada por crianças».
«Houve muitas reclamações e como medida cautelar, o livro foi de certa forma retirado do local onde se encontrava e agora será avaliado pelas instâncias subsequentes se constitui de facto a prática de algum acto ilícito», explicou.
Este subintendente frisou que foi tida em conta uma situação de «alguma agitação por parte das pessoas que se encontravam naquele espaço». «Na tentativa de diminuir e acabar com essa agitação foram retirados estes cinco exemplares», concluiu.
Também contactado pela TSF, o antigo director da Faculdade de Belas Artes de Lisboa considerou que não se justifica fazer esta apreensão e que está pode mesmo ser considerada como um «acto de censura».
«É uma menor capacidade de entendimento da problemática artística que advém de um problema de educação. É de facto pela educação que conseguimos ultrapassar situações como esta», adiantou Miguel Arruda.
Este professor, que frisou que este caso nada tem a ver com pornografia, considerou ainda que «superiormente isso será entendido e será objecto de uma correcção que pedagogicamente terá efeitos positivos».
Miguel Arruda lembrou que um pintor ao representar o corpo humano «fá-lo numa atitude sempre interpretativa» e que estão em causa valores sobre os quais «ele raciocina e que depois valoriza segundo um determinado critério», o que exclui a existência de pornografia.
Comentário: Estávamos em 1866 e Courbet era já um pintor conhecido em França pela sua destreza técnica mas sobretudo pela sua atitude crítica e corrosiva em relação à sociedade e moral burguesas, que não perdia ocasião de afrontar. Courbet era um socialista convicto, ligado ao pensamento de Proudhon do qual era amigo e conhecedor da obra. No entanto talvez isso não baste para justificar a obra que realizou nesse ano e que havia de o celebrizar mais do que todas as outras. Ao representar frontalmente as coxas e o sexo de uma mulher, A Origem do Mundo abalou profundamente não só o meio artístico da época assim como o meio político e o das mentalidades...Em portugal foi preciso esperar 143 anos para que um episódio semelhante acontecesse...
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