terça-feira, fevereiro 24, 2009

EUA Fraude

A denúncia veio no The New York Times no final da semana passada: uma fraude sem precedentes na história dos EUA (e do mundo, já agora) fez desaparecer a astronómica verba de 125 mil milhões de dólares previstos para a reconstrução do Iraque, dos quais ninguém sabe hoje prestar contas e de que restam, no terreno, dois esquálidos resultados: uma embaixada dos EUA em Bagdad (a maior do mundo, instalada num complexo equivalente a 80 campos de futebol) e um conjunto de palmeiras e flores plantadas junto às estradas do Iraque e nos separadores das principais avenidas da capital.
A denúncia assenta num relatório do inspector-geral especial dos EUA para a Reconstrução do Iraque e, significativamente, só de raspão passou pela generalidade dos órgãos de informação portugueses, aqui nada apoquentados com fraude tão desmedida.
Acontece que a “Reconstrução do Iraque” foi totalmente entregue ao Pentágono e inteiramente dirigida pelos militares no terreno, pelo que esta gigantesca rede de corrupção envolve directamente as Forças Armadas norte-americanas, implica-as desde as mais altas patentes e hierarquia e alastra por uma miríade de empresários e empresas da famosa “livre iniciativa” norte-americana, todos a locupletar-se, já não com os famosos contratos milionários da “reconstrução” – aqui e ali denunciados ao longo dos anos, sobretudo por rivais preteridos e despeitados –, mas pura e simplesmente com o saque quadrilheiro de um monumental bolo de 125 mil milhões de dólares.
Perante isto, a colossal fraude dos 50 mil milhões do especulador Madoff ainda se arrisca a tornar-se “modesta” na ecléctica Justiça norte-americana, evoluindo para “atenuante” em benefício do seu responsável…
É claro que já estão uns coronéis indiciados ou inquiridos pela Justiça, mas nada mais que isso e, sobretudo, ninguém acima disso: até agora (e como de costume) não há um único general envolvido no inquérito, embora seja impossível que uma operação desta envergadura pudesse ocorrer no interior de um exército de ocupação, e em guerra, com desconhecimento dos mais altos níveis da cadeia de comando.
Para que o carácter sinistramente criminoso de tudo isto ficasse sinalizado, referiu-se entretanto que, já em 2004, o empreiteiro e negociante de armas norte-americano Dale C. Stofel foi morto a tiro numa estrada de Bagdad após ter contado a investigadores, sob promessa de imunidade, como responsáveis dos EUA geriam os seus esquemas de corrupção na capital iraquiana.
E não se fala de uns responsáveis quaisquer: várias fontes referem a empresa de construção Halliburton, ligada ao então vice-presidente Dick Cheney, de ser uma das envolvidas no esquema de corrupção e fraude, enquanto em 2008 se ouvia a secretária de Estado Condoleezza Rice garantir, com inaudito descaramento, que «nenhum dinheiro americano se perdeu no Iraque em esquemas de corrupção».
Claro que não se perdeu. Aliás, foi todo “ganho”, numa admirável “vaquinha” entre a administração Bush, a elite militar que comandou a ocupação do Iraque e a vasta nata empresarial ianque especializada a cobrar sem produzir.
No cinema, a estas coisas chamam-lhe Máfia. Nos jornais, e na manipulação que por aí temos, constituem “originalidades da grande democracia americana”.
http://infoalternativa.org/spip.php?article594

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