segunda-feira, fevereiro 09, 2009

A guerra ao terror é uma mistificação

Fazendo fé na propaganda, há células terroristas espalhadas por todo o território dos EUA, o que torna forçoso ao governo espiar cada cidadão, em violação da maior parte das restantes garantias constitucionais para além da segurança. Entre as últimas palavras do ex-Presidente Bush, proferidas antes de se retirar, está o aviso de que os EUA seriam atingidos novamente por ataques terroristas muçulmanos.

Se os EUA estivessem tão infestados de terroristas, o governo nem precisaria de nos esclarecer. Sabê-lo-íamos pelos factos. Porque os factos não confirmam, vem o governo propagando alarmes que avivem os nossos medos, para que aceitemos guerras não justificadas, violações dos direitos cívicos e dos registos de identidade nacionais, interpelações e perseguições ao viajarmos.

A prova mais forte de que não há células terroristas é que nem um único neoconservador foi assassinado.

Não aprovo os assassinatos e tenho vergonha de que o governo do meu país se tenha comprometido com assassinatos políticos. Os EUA e Israel deram um muito mau exemplo para al Quaeda seguir.

Os EUA lida com al Quaeda e com os talibãs assassinando os seus dirigentes; Israel lida com o Hamas assassinando os seus dirigentes. É razoável supor que al Quaeda lide com os instigadores e dirigentes norte-americanos das guerras no Médio Oriente da mesma maneira.

Hoje, todo o membro de al Quaeda está ciente da cumplicidade dos neoconservadores na morte e devastação inflingida aos muçulmanos no Iraque, Afganistão, Líbano e Gaza. Além disso, os neoconservadores são facilmente localizáveis e alvos comparativamente fáceis quando comparados aos dirigentes do Hamas ou do Hezbolá. Os neoconservadores estão identificados pela imprensa há largos anos e, como toda a gente sabe, existem mesmo listas com os seus nomes na internet.

Os neoconservadores não dispõem de protecção da polícia secreta. É terrível reconhecer, mas seria uma brincadeira de criança para al Quaeda assassinar quer um quer todos os neoconservadores. No entanto, os neoconservadores deslocam-se livremente e tal demonstra que os EUA não sofrem do problema do terrorismo.

Se, como os neoconservadores tanto insistem, os terroristas conseguem importar clandestinamente armas nucleares ou outras armas sujas, com as quais poderiam destruir as nossas cidades, com mais facilidade ainda poderiam adquirir armas ligeiras para assassinar cada um dos neoconservadores ou membro do governo anterior.

Porém, os neoconservadores norte-americanos mais odiados pelos muçulmanos permanecem intocados.

A "guerra ao terror" é uma mistificação que encobre o controlo exercido pelos EUA sobre os oleodutos, os lucros do complexo militar e de segurança e o assalto às liberdades dos cidadãos empreendida pelos que procuram internamente criar um estado policial e externamente expandir o território de Israel.

No Iraque, não existia al Quaeda até à chegada dos norte-americanos, aquando da invasão e derrube de Saddam Hussein, que os havia mantido afastados. Os talibãs não constituem uma organização terrorista, antes um movimento que tenta unificar o Afganistão sob a lei muçulmana. Os únicos norte-americanos que estão verdadeiramente ameaçados pelos talibãs são os que Bush enviou ao Afeganistão com a missão de os matar e impor um estado fantoche ao seu povo.

O Hamas é o governo democraticamente eleito na Palestina; ou no pouco que sobra da Palestina após as anexações ilegais de Israel. O Hamas é tanto uma organização terrorista quanto os governos de Israel e dos EUA. Numa tentativa de submeter o Hamas à sua hegemonia, Israel usa o terror das bombas e os assassinatos contra os palestinianos. O Hamas responde ao terror de Israel com foguetes artesanais e quase inócuos.

O Hezbolá representa os xihitas do Sul do Líbano, outra zona do Médio Oriente que Israel tem nos seus planos de expansão.

Os EUA classificaram o Hezbolá de "organização terrorista" pela simples razão de se posicionarem neste conflito do lado de Israel. Não há razões fundamentadas para que o Departamento de Estado dos EUA considere o Hamas ou o Hezbolá organizações terroristas. Não passa de mera propaganda.

Os norte-americanos e israelitas não chamam terrorismo aos bombardeamento que levam a cabo sobre civis. O que os norte-americanos e israelitas disignam por terror é a resposta desse povo oprimido, que não possui um estado porque o seu país foi governado por marionetes leais aos opressores. Este povo, despojado no seu próprio país, não tem um Departamento de Estado (Ministério dos Negócios Estrangeiros), nem um Ministério da Defesa, tampouco representação nas Nações Unidas ou voz nos grandes meios de difusão. A sua única opção é submeter-se à hegemonia estrangeira ou resistir com os meios exíguos que dispõe.

O facto de Israel e os EUA promoverem uma propaganda constante que impeça estes factos fundamentais de serem reconhecidos indica que tanto Israel como os EUA não têm razão e que os palestinianos, os libaneses, os iraquianos e os afegãos estão a ser enganados.

Alguns generais norte-americanos reformados, em serviço de propaganda na "Fox News", afirmam constantemente que o Irão fornece armamento ao Iraque e aos insurrectos afegãos e do Hamas. Mas onde estão essas armas? Para enfrentar os tanques norte-americanos, os insurrectos têm que construir engenhos explosivos em casa, desprovidos de invólucros balísticos. Passados seis anos de conflito, os insurrectos ainda não conseguem defender-se dos helicanhões norte-americanos. Compare-se este "armamento" com a artilharia que os EUA forneceram aos afegãos há três décadas atrás, quando estes se encontravam em guerra com a União Soviética.

Os filmes dos ataques mortíferos a Gaza mostram muitos palestinianos a fugir das bombas, outros mortos ou estropiados, mas nenhuma dessas pessoas está armada. A esta hora, era fácil acreditar que todos os palestinianos andassem armados, não apenas os homens, como as mulheres e até as crianças. Porém, o que vimos em todos os filmes dos ataques de Israel foi uma população palestina desarmada. O Hamas teve de construir bombas em casa, que pouco mais são que um sinal de protesto. Se o Hamas estivesse armado pelo Irão, o assalto a Gaza teria custado a Israel no mínimo alguns helicópteros e tanques e algumas centenas de mortos entre os soldados.

O Hamas é uma pequena organização armada de espingardas de pequeno calibre, inofensivas contra um corpo blindado de artilharia. O Hamas nem tem capacidade para impedir que pequenos grupos de colonos judeus caiam sobre aldeias palestinas do "West Bank", expulsem de lá os palestinianos e se apropriem das suas terras.

Difícil é compreender o facto de, passados já 60 anos de opressão, os palestinianos continuarem desarmados. Há certamente países muçulmanos cúmplices de Israel, tão certo como os EUA desejarem mantê-los desarmados.

A afirmação não fundamentada de que o Irão fornece armas sofisticadas aos palestinos assemelha-se a outra afirmação, igualmente sem fundamento, de que Saddam Hussein detinha armas de destruição massiva. Tais afirmações são atoardas propandandísticas destinadas a justificar a morte dos civis árabes e a destruição das infraestruturas urbanas com o propósito de impor a hegemonia de Israel e dos EUA no Médio Oriente.


Paul Craig Roberts, The War on Terror is a Hoax, publicado por Counterpunch a 4 de Fevereiro de 2009
http://ferrao.org/

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