A alegada falta de uma “moral objectiva” é uma critica comum ao ateísmo. Mas nunca fica claro o que querem os críticos dizer com isso, nem como um deus resolveria esse suposto problema. O Jónatas Machado dá mais um exemplo ao afirmar, sem justificação, que «O único que pode estabelecer critérios morais objectivos é um Deus eterno, infinito, omnipotente e omnisciente.»(1)No sentido mais forte, “objectivo” quer dizer referente ao objecto. A carga do electrão é uma propriedade objectiva neste sentido. Mesmo que desaparecessem todos seres sensíveis do universo, todos os sujeitos, os electrões continuariam a ter a mesma carga. Mas se desaparecessem todos os sujeitos não haveria moral. Não pode haver moral objectiva, neste sentido forte, porque só os sujeitos têm valores. Os objectos, enquanto tal, não se portam nem mal nem bem. Além disso, se a moral fosse objectiva neste sentido não era preciso deuses para nada. As coisas já seriam, por si, boas ou más, e postular um deus como fundamento da moral seria como postular um deus como fundamento para a carga do electrão. Há quem o faça, mas é disparate.Noutro sentido mais fraco, “objectivo” quer dizer simplesmente que não varia de sujeito para sujeito. E isto sim é uma parte importante da ética. Os valores morais devem ser objectivos no sentido em que uma acção moralmente correcta para um dos intervenientes tem que ser moralmente correcta para todos. Não posso dizer que é moral eu fazer uma coisa aos outros enquanto defendo ser imoral que ma façam a mim se as circunstâncias se inverterem. Mas mesmo com esta noção de objectividade é disparate assentar a moral num deus. A moral só é objectiva por ser universal e invariante de sujeito para sujeito. Se o Jónatas quer eleger um sujeito como fonte única da moral então propõe uma moral subjectiva, e não importa que esse sujeito seja um deus ou que o escrevam com letra maiúscula.Fundamentar as regras de conduta na vontade de um deus é rejeitar a ética. Por muito benevolente que esse deus seja, ou o que ele ordena é objectivo no sentido de não variar de sujeito para sujeito e então já seria moral mesmo que ele não o ordenasse, ou o que ele ordena não cumpre este requisito de objectividade e é imoral. Seja como for, não é o deus que pode dar a moral. “Não matarás” é uma boa regra moral se for uma regra universal aplicada a todos os sujeitos em certas condições. Mas se vem de um deus que volta e meia massacra quem lhe apetece não é uma regra moral. É um capricho de um ditador sem escrúpulos.Na prática, o que os crentes como o Jónatas propõem é ainda pior. Apesar do que o Jónatas afirma, não é verdade que ele tenha contacto directo com o seu suposto deus. O que ele propõe como fonte da moral são normas que, além de subjectivas, nem sequer foram elaboradas com uma motivação ética. Foram escolhidas por alguns lideres religiosos para fins políticos e num contexto social muito diferente do nosso. Daí o recurso a ameaças de retribuição divina, histórias de castigos terríveis e coisas dessas. «Todos estamos sujeitos ao castigo de Deus. [...] Ora, um Deus justo julga o mal. Daí o julgamento sobre a humanidade no dilúvio, sobre Sodoma e Gomorra, sobre os povos, sobre todos nós no juizo final também anunciado por Deus.[...] Na morte de Jesus Cristo, Deus encarnado, Deus castigou todo o pecado. Na sua ressurreição, a morte, que era consequência do pecado, foi vencida.»(1)Isto não é moral. Isto são tretas para manter o rebanho na linha.
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