domingo, março 22, 2009

Bons e maus offshores

Falando na cimeira de Bruxelas, o ministro das Finanças Teixeira dos Santos referiu-se aos offshores reconhecendo que “a bem da transparência e da própria estabilidade dos mercados financeiros internacionais, estaríamos bem melhor se não tivéssemos essa realidade pela frente”. Mas, logo a seguir, o ministro considerou também que, “se não existisse a zona franca da Madeira, essa realidade ocorreria noutras praças ou noutros offshores, necessariamente não transparentes”. E, como que para nos sossegar o espírito, tentou dar a garantia de que “nós na Madeira ainda temos capacidade de supervisionar, ainda há regras, ainda há informação”.

Resumindo: por um lado os offshores são maus, mas por outro dão jeito; por um lado, escapam a controlo (os estrangeiros), mas por outro podem ser controlados (os nossos); o que seria bom era fechar todos, menos os nossos, a bem da estabilidade dos mercados financeiros.

Teixeira dos Santos finge não perceber que os offshores só existem para proporcionarem ao capital condições de escapar a controlo, a regras, a supervisão, a informação. Mais: a conversa que o ministro agora faz acerca do assunto – repetindo o mote de todos os responsáveis capitalistas que ainda ontem defendiam o contrário – faz parte de uma estratégia de mistificação: fazer crer que a crise que o capitalismo atravessa é fruto de regras mal cumpridas ou violadas, de excepções ao seu funcionamento “normal” que o teriam desviado de rumo. Quando a crise é o desembocar natural do seu processo de crescimento caótico, imprevisível e anti-social.
http://www.jornalmudardevida.net/?p=1477

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