Se alguém quiser perceber como o "capitalismo de compinchas" que governa Portugal nos está a empobrecer a todos e ao país, leia os depoimentos publicados neste blogue. São histórias reais de jovens altamente qualificados que emigraram. As histórias são escritas pelos próprios e publicadas sem comentários, o que as torna ainda mais impressionantes. Depois de ler meia dúzia destas histórias começamos a encontrar pontos comuns que formam um padrão: e este padrão indicia um dos crimes mais hediondos que o poder político e o poder económico (se é que ainda há distinção entre os dois) já cometeram contra a nossa República.Pela minha experiência e das pessoas que conheço, sei que mais de metade dos nossos filhos, genros e noras - jovens entre os 25 e os trinta e cinco anos, na esmagadora maioria altamente qualificados - estão a estudar ou a trabalhar noutros países; e fico a pensar se a proporção que encontro neste pequeno universo é ou não generalizável. Em todo o caso, mesmo que a nível nacional a proporção não atinja os 50% que atinge na minha experiência, uma certeza tenho: são muitos. São demais.Sou professor do ensino secundário no topo da carreira: não é de admirar que uma grande parte das minhas relações sociais consista noutros professores de idade semelhante à minha, muitos deles já aposentados ou a pensar na apossentação, nem que muitos tenham filhos da idade aproximada do meu. Destas pessoas, só uma tem uma filha professora. Os pais fogem da escola; os filhos fogem da profissão dos pais e metade deles fogem de Portugal. É este o padrão que eu vejo.Não seria interessante se alguma estação de televisão fizesse um documentário sobre os professores que se estão a aposentar prematuramente e, em paralelo, sobre os filhos destes professores - a sua visão do mundo, as suas qualificações, as suas profissões, as suas expectativas de vida e de carreira? Quase garanto que esta reportagem, se fosse bem feita, seria daquelas que dão prémios.
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