Na leitura apressada das primeiras páginas dos jornais desta manhã de terça-feira, 24 de Março, há um pequeno título que prendeu a minha atenção.
Pendurado nos escaparates ao lado de outros títulos, que anunciam que «o desemprego atingiu 2180 pessoas por dia» (Jornal de Notícias), ou que há «mais 53 mil pessoas desempregadas nos últimos dois meses» (Diário de Notícias), ou ainda que «a Peugeot/Citroën de Mangualde tem um plano de saídas voluntárias», enquanto «no País, os desempregados são mais 18 por cento» (Público), ou ainda que o «desemprego tem subida recorde» (Diário Económico), o Correio da Manhã passa ao lado desta realidade e, a enquadrar a barra vermelho que serve de fundo ao nome do matutino, aparece a fotografia de António Vitorino, o conhecido comentador da RTP, ex-ministro do PS, pessoa de muitas artes e iniciativas.
Não consigo desviar o olhar daqueles poucos centímetros quadrados que dizem que António Vitorino, ex-comissário europeu, ganha 5000 euros por cada reunião em que participa como Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Brisa.
Procuro ainda outras informações sobre essa tragédia que significa o facto de, comparativamente com o ano passado, haver mais setenta mil desempregados no nosso país, particularmente porque me vem sempre à ideia que o PS, ainda há poucas semanas, rejeitou a proposta do PCP de aumentar o Subsídio de Desemprego e alargar os critérios para a sua atribuição.
E, no entanto, os olhos fixam-se sempre naquela informação, que vou remoendo e desmontando para perceber que António Vitorino por cada reunião daquelas embolsa mais do que dez trabalhadores, que ganhem o Salário Mínimo Nacional, por um mês de trabalho!
E que, uma vez que é da Brisa que se fala, um automobilista tem que percorrer cento e cinquenta vezes a A1 entre Lisboa e Porto para pagar a tal reuniãozita de Vitorino.
E, nem sei bem porquê, lembrei-me de que Vitorino defendia na sua última crónica semanal na RTP, que os sindicatos suavizem as suas posições a fim de permitir a flexibilização do trabalho, para então gizar um Acordo Geral entre Parceiros Sociais e Governo para se encontrar um entendimento quanto à política futura de salários e rendimentos.
Não desfolhei o jornal para verificar os desenvolvimentos desta notícia. Bastou-me saber que aquela informação vem inscrita no «relatório anual de bom governo das sociedades, ontem disponibilizado no sítio da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)».
Se é uma questão de bom governo, ficamos todos mais descansados!
http://infoalternativa.org/spip.php?article722
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