quarta-feira, março 11, 2009

Olhão: escolas e papel higiénico

Um grupo de Olhanenses decidiu indignar-se e organizou uma recolha de papel higiénico para entregar às escolas do concelho. A iniciativa cidadã nasceu de um email escrito pelo pai de uma criança a frequentar uma escola do 1º ciclo do ensino básico onde não existe sistematicamente papel higiénico nas casas de banho e estas se encontram permanentemente imundas.

Assim vai Portugal. Frente a um cartaz de propaganda onde se anuncia a aposta na educação dos nossos governantes, onde uma criança sorri feliz agarrada ao computador, os cidadãos que esta manhã passeavam em Olhão foram depositando os maços de rolos de papel.

Em Portugal habituámo-nos todos a pactuar com a propaganda olhando-a com desdém mas sem a contestar. Toleramos o miserabilismo dos interiores com a mesma facilidade com que convivemos com as limpezas de fachada para a propaganda. Sem nos indignarmos.

Assim entre o bocejo e a náusea vemos a ministra da educação a inaugurar uma escola cheia de quadros electrónicos ao mesmo tempo que dizemos para o nosso vizinho do lado que na escola do nosso miúdo não é assim. Por isso vamos achando normal que continuem a existir refeitórios sem condições nas escolas ou que estas funcionem em barracos e contentores sujos cheios de humidade e lixo.

Aceitamos que nas escolas por falta de funcionários o pó se possa acumular, as salas não sejam limpas, que por orçamentos mesquinhos o papel higiénico falte, que os miúdos se magoem nos recreios por falta de vigilância só porque é Novembro e o ministério ainda não foi capaz de contratar aquela funcionária que só vai entrar em Janeiro nos contratos de seis meses que acabam no fim de Junho.

Aceitamos que os miúdos sejam transportados tantas vezes sem vigilância e ao arrepio da lei. Não esqueço as histórias que vou ouvindo. O ano passado no Agrupamento de Alapraia, que até é visitado pela ministra com frequência, uma criança foi sovada por outra dentro do autocarro quando era transportada para a natação sem vigilância. Aceitamos como acontece no Barreiro que haja escolas conspurcadas com fezes de gatos que vivem nas traseiras dos contentores ou que as crianças adoeçam com gastroenterite por causa de uma refeição de rolo de carne que foi cozinhada numa cozinha a cair de velha. Ou ainda que haja ratos a vaguear no interior das escolas como acontece tantas vezes na Alta de Lisboa.

Aceitamos tudo quase sempre sem contestar. Sem escrever e denunciar estas coisas aos organismos competentes. Ao delegado de saúde da área que há anos não vistoria o refeitório porque já sabe que vai encontrar irregularidades e isso vai criar problemas na Câmara. À ASAE que por acaso até já visitou um armazém da esquina mas teima com obstinação em não entrar nas escolas para as passar a pente fino. Aceitamos sem escrever ao ministério, sem incomodar a Delegação Regional de Educação, sem denunciar ao Presidente da Câmara. Aceitamos porque pouco já acreditamos nestas instituições.

No entanto podemos fazer como fizeram estes cidadãos de Olhão. Escrever para a comunicação social, montar uma campanha que envergonhe quem manda. Quem pactua com os orçamentos miseráveis que conduziram a tudo isto. Em suma podemos agir.

Não podem continuar a tapar-nos os olhos com a propaganda dos computadores Magalhães e os quadros electrónicos. Há muitas coisas básicas e bem mais importantes que não estão asseguradas. Por exemplo a higiene e segurança nas escolas ou o simples papel higiénico.
http://sol.sapo.pt/blogs/contramestre/

Sem comentários: