sexta-feira, abril 10, 2009

O grande circo de Londres

Meses atrás a formidável maquinaria propagandística do império alimentava a ilusão de que a reunião do G-20 em Londres daria a estocada final na crise. Mesmo assim, à medida que se aproximava a data, começaram a se escutar vozes discordantes. Nicolas Sarkozy e Ângela Merkel jogaram baldes de água fria sobre o iminente conclave e o anfitrião, o "progressista britânico Gordon Brown", aconselhou baixar as expectativas, ao passo que um número crescente de economistas críticos e historiadores advertia sobre a futilidade da tentativa. Em que pese tudo isso, os ilusionistas e malabaristas do sistema não deixaram de exaltar a reunião de Londres e tratar de que as tímidas medidas que ali se adotavam fossem interpretadas pelo público como propostas sensatas e efetivas para resolver a crise.

Como era de se esperar, pouco ou nada concreto saiu da reunião. E isso por várias razões. Primeiro porque no que alguns caracterizaram, com arrogância e ignorância inauditas, como Bretton Woods II nem sequer se colocou a questão fundamental: reformar para que, com que objetivo? Ao se desviar do tema por omissão, ficou estabelecido que o objetivo das reformas não seria outro senão o de voltar à situação anterior à da crise. Isso supõe que o que a causou não foram as contradições inerentes ao sistema capitalista, mas aquela "exuberante irracionalidade dos mercados" da qual se lamentava Alan Greenspan, sem se dar conta de que o capitalismo é por natureza exuberantemente irracional e que isso não se deve a um defeito psicológico dos agentes econômicos, mas sim de que tem seus fundamentos na própria essência do modo de produção.

Segundo: haja vista o anterior, não surpreende comprovar que o G-20 tenha decidido fortalecer o papel do FMI para liderar os esforços da recuperação, sendo o principal autor intelectual da crise atual. O FMI foi, e continua sendo, o principal veículo ideológico e político para a imposição do neoliberalismo em escala planetária. É uma tecnocracia perversa e imoral que recebe honorários exorbitantes (isentos de impostos!) e cuja pobreza intelectual foi muito bem resumida por Joseph Stiglitz, quando disse que o FMI estava lotado de "economistas de terceira formados em universidades de primeira". E pelas mãos desses aprendizes de bruxos é que se pensa em sair da crise mais grave do sistema capitalista em toda sua história? Não há nisso um grande exagero: esta crise é a manifestação externa de várias outras que irrompem pela primeira vez: crise energética, ambiental, hídrica. Nada disso havia na depressão de 1873-1896 ou na Grande Depressão dos anos 30. Em seu entrelaçamento tais crises impõem um desafio de inéditas proporções, frente ao qual as receitas do FMI não farão nada, a não ser aprofundar os problemas até os extremos menos imaginados.

Terceiro: dada esta situação, o tema é grave demais para deixá-lo em mãos do G-20 e seus especialistas. Por isso o presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel D'Escoto, disse que o necessário não era um G-20, mas um G-192, uma cúpula de todos os países, tendo-a convocado para junho deste ano. O G-20 trata de cooptar vários países do sul com a esperança de fortalecer o consenso para uma estratégia gatopardista de "saída capitalista para a crise do capitalismo": mudar algo para que nada mude. Entretanto, não há possibilidade alguma de superar esse temporal apelando às receitas do FMI, e o melhor que podiam fazer os países convidados a Londres era denunciar com serenidade, porém firmeza, a inanidade das medidas ali adotadas e que dentro do capitalismo não haverá solução para nossos povos nem para as ameaças que se colocam a todas as formas de vida do planeta Terra.

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