“Não lhes falta nada. Têm cuidados médicos, comida quente... Claro que o actual lugar de abrigo é provisório, mas há que encarar a situação como um fim-de-semana no parque de campismo”. Estas foram as palavras utilizadas por Silvio Berlusconi para se referir às vítimas do sismo que na passada segunda-feira abalou a região centro de Itália e aos milhares de desalojados que estão provisoriamente acomodados em tendas. Não diferem muito das de outras intervenções de dirigentes políticos de todo o mundo, também eles contagiados pela moda que para aí anda de sempre dizer algo de “positivo”, ainda que absurdo, nas situações mais adversas. Desta vez, porém, aquela conversa das “janelas de oportunidades” que se abrem sempre em momentos de crise não pode ser debitada: os quase 300 mortos, familiares, amigos e vizinhos dos sobreviventes tornam o absurdo evidente. Estão mesmo mortos, não estão a dormir ali mesmo ao lado do parque de campismo. E será apenas pela evidência de haver mortos que as palavras fazem estremecer uma plateia que, desta vez, ao contrário do que aconteceu no dia em que elegeu Berlusconi, provocaram uma pausa na sonolência que costuma caracterizá-la. Proponho que sigamos a receita e pensemos positivo: a plateia de incomodados voltará a dormir.
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