quinta-feira, abril 30, 2009

Professores em peso na apresentação de “A Educação do Meu Umbigo”

"A Educação do Meu Umbigo", livro de Paulo Guinote, baseado nos textos do blogue homónimo, serviu de pretexto para uma emotiva sessão de apoio ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Sto. Onofre. A sessão decorreu no CCC, a 25 de Abril, e nela participaram mais de uma centena de professores.
Foi uma sessão muito participada num dia simbólico e que mais uma vez ficou provado como os dissabores entre o Ministério da Educação e os professores têm contribuído para a união daquela classe profissional.



A destituição do Conselho Executivo (CE) do Agrupamento de Santo Onofre foi, para o autor do livro e do blogue, “uma situação de abuso de poder pois o CE fez tudo o que estava ao seu alcance para tentar resolver a situação”. Ser destituído desta forma “é uma humilhação pública que a escola e o agrupamento em causa não mereciam”. Para Paulo Guinote, poderia ter sido feita uma intervenção anterior “sem esta atitude selvática de entrar pela escola dentro e colocar no CE pessoas que praticamente não conhecem a escola”, disse. Nesse aspecto Sto. Onofre “foi usado para servir de exemplo a quem quiser opor-se ou a quem não queira seguir as ordens do Ministério da Educação”. A opinião sobre este acontecimento, que colocou a escola caldense nas notícias do dia, foi dada antes da sessão que reuniu cerca de 130 pessoas, sobretudo professores.

O autor de A Educação do Meu Umbigo disse que vir às Caldas apresentar o seu livro foi apenas o pretexto. O que Paulo Guinote pretendia era mesmo conhecer pessoalmente muitos dos colegas com quem tem falado na blogosfera e solidarizar-se com os professores de Sto. Onofre “pela situação que estão a atravessar neste momento”. E foi ele próprio que sugeriu o dia 25 de Abril para esta iniciativa.
Este professor de 44 anos, licenciado em Filosofia, que lecciona Língua Portuguesa, História e Geografia de Portugal no 2º ciclo do Ensino Básico estava longe de imaginar o alcance que o seu blogue alcançou nos últimos tempos. Os seus textos são “um retrato do que se passa hoje nas escolas” e tem um fiel grupo de seguidores e de comentadores, já referenciados com os “umbiguistas”.

Este é um livro que “incomoda ministros e que mobiliza os professores”. É este o epíteto que acompanha o livro que Rui Correia, professor do Agrupamento mais falado nos últimos tempos, descreve como “surpreendente e incontornável para conhecer o que se tem passado na Educação em Portugal”.



“O caminho que escolhemos faz de nós um agrupamento especial”



Paulo Prudêncio, um conhecido bloguista (o seu site Correntes é um dos mais conhecidos na blogosfera dos professores), disse que é uma “feliz coincidência” a apresentação do livro de Guinote ser feita no dia 25 de Abril e passou a palavra à ex-presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Sto. Onofre, Lina Esteves, que foi longamente aplaudida de pé pela assistência, que transformou aquele momento num protesto contra a destituição efectuada pelo Ministério da Educação.

Contendo a custo a emoção, a antiga responsável pela Escola de Sto. Onofre disse que era ela apenas o rosto de uma escolha colectiva, feita por todos os professores do agrupamento. “O caminho que escolhemos faz de nós um agrupamento especial”, disse, agradecendo o apoio dado pela “comunidade das Caldas da Rainha que transversalmente nos tem ajudado”.

Este agrupamento limitou-se a cumprir os procedimentos para a implementação do novo modelo de gestão escolar, mas, por três vezes consecutivas, não houve professores que quisessem constituir listas para o Conselho Geral Transitório. Por causa disso, foi castigado pelo Ministério da Educação.

Nas últimas reuniões de Câmara e Assembleia Municipal foram aprovadas moções de solidariedade com a Escola de Sto. Onofre, que mereceram o apoio de todos os partidos políticos, incluindo do partido que está no Governo que, no que concerne à educação, se encontra profundamente dividido.

No período de debate, alguns professores, vindos de várias partes do país, referiram-se ao Educação do Meu Umbigo como uma “fonte de alento”, ao qual iam buscar a informação necessária e a coragem para contestarem nas escolas as politicas do ministério de Maria de Lurdes Rodrigues. “Se não fosse este blogue, nós nunca teríamos tido a coragem de manter a nossa posição de não entregar os objectivos”, disse uma professora de Leiria, queixando-se que a sua escola “parece um submundo, onde toda a gente tem medo de abrir a boca e onde nunca sabemos o que nos vai acontecer na próxima segunda-feira”.



A importância da blogosfera na mobilização de uma classe



Respondendo a mais intervenções que referiram o clima de medo existente em algumas escolas, Paulo Guinote disse que “não ter medo não é ser corajoso, mas tê-lo e vencê-lo é que implica ter alguma coragem”. E contou que chegou a ser chamado ao Conselho Executivo após ter feito alguns posts no seu blogue que eram lidos no Ministério, cujos responsáveis telefonavam imediatamente para a sua escola. Por outro lado, alguns professores que fizeram declarações à imprensa, tinham logo a Inspecção Geral da Educação a fazer inspecções nas suas escolas, o que leva à auto-censura e à auto-limitação do exercício de cidadania dos professores.

“Se nós assumirmos esse medo, eles avançam, mas se nós fincarmos o pé e olharmos para o adversário olhos nos olhos, podemos ganhar”, disse.

Manuel Micaelo, dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, disse que nem sempre concordava com as posições de Paulo Guinote (que tem frequentemente posições contrárias às dos sindicatos), mas que reconhecia no seu blogue “um papel muito importante na mobilização dos professores para as greves e manifestações”.

Como seria de esperar perante uma plateia composta por professores, o debate prosseguiu com questões relacionadas com as formas de luta que estes pretendem prosseguir.

No final, houve ainda lugar a surpresas. Foram apresentados pequenos vídeos com mensagens de apoio de professores que não puderam estar presentes, seguindo-se uma actuação do coro “Pastelinhos de Belém”, que é formado por professores da EBI de Sto. Onofre.

Comentário: o Guinote nunca teve oportunidade de ir às Caldas da Rainha. Em acções da APEDE estive nas Caldas uma, duas, três, quatro...o guinote nunca lá apareceu. É que nessa altura não tinha nenhum livro para vender...

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