sexta-feira, abril 24, 2009

UMA DESGRAÇA DE PROFETA

O físico Niels Bohr disse que era muito difícil fazer previsões. E acrescentava: especialmente do futuro. É por isso que os profetas, sejam da desgraça ou da graça (predominam os primeiros), costumam falhar. Recentemente, falhou mais uma vez um profeta da desgraça, ao contrário do que o próprio e os média quiseram fazer crer.

Giampaolo Giuliani, técnico do Instituto Nacional de Astrofísica Italiano (trata-se de um técnico não licenciado e não de um cientista!), previu um sismo na Itália central em Março passado, baseado num aumento que detectou de emanações do gás radão do subsolo. E colocou uma carrinha na rua com um megafone a assustar as pessoas.

Face à tragédia que ocorreu em L’Aquila, no dia 6 de Abril de 2009, a imprensa de todo o mundo referiu essa previsão, afirmando ou insinuando que se poderia ter prevenido a catástrofe se o profeta tivesse sido levado a sério. Muita e boa gente acreditou na previsão, interrogando-se por que razão a ciência não tinha sido ouvida.

Acontece, porém, que não se trata de ciência. No actual “estado da arte” não podem ser previstos sismos. Esta é a conclusão da comunidade dos especialistas em sismologia. Os sinais de radão não são um bom indicador. Apesar dos numerosos estudos feitos, não há nenhuma maneira fiável de indicar que num dado sítio, num certo dia e a uma certa hora vai ocorrer um sismo. Pode-se, quando muito, indicar probabilidades, bastante incertas. Giuliani falhou redondamente, pois previu um sismo em Sulmona a 30 km a sul de L’Aquila para uma semana antes. Se a protecção civil o tivesse levado a sério, teria evacuado os habitantes de Sulmona para L’Aquila, engrossando assim as vítimas da tragédia. O Laboratório para o qual Giuliani trabalha publicou aliás um comunicado, esclarecendo que o seu objecto é a astrofísica e não a geofísica, não passando as “pesquisas” de Giuliano sobre sismos de um hobby.

Eis pois como um lunático em busca de protagonismo teve os seus quinze minutos de glória. Não foi muito, mas podia-se ter poupado esse tempo.
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