Compreendo a acção do professor ao procurar no sistema de justiça uma reparação a um episódio que considerou insultuoso com que o sistema educativo não conseguiu, ou não quis, lidar. No entanto, fico embaraçado que uma situação de indisciplina com um adolescente de 16 anos, na altura do episódio, seja resolvida em tribunal, situação que, creio, muita gente aplaudirá. Será normal? Como é que podemos reforçar e alimentar a ideia de que na escola deveremos ser capazes e ter meios para resolver os problemas da escola, se começarmos a fazer derivar para os tribunais a gestão dos problemas de comportamento dos alunos. O que terá o ME a dizer sobre esta questão? Sabemos todos que os problemas no âmbito da indisciplina são frequentes e graves, mas passará pelos tribunais a sua minimização?Parece-me que corremos algum risco de enviesamento na definição de papéis e de uma discreta desresponsabilização dos decisores e actores em matéria de educação, entregando à justiça algo que seria da sua competência e responsabilidade. Não me esqueço que, frequentemente, se colocam no mesmo saco, comportamentos de natureza diferente, isto é, podemos estar a lidar com indisciplina, pré-delinquência e delinquência ou perturbações de comportamento no âmbito da saúde mental. Neste quadro, a escola precisa de meios para avaliar as situações, para assumir o que se entende ser da sua competência e exigir que a comunidade tenha, ela própria, recursos para responder às questões de outras áreas de competência que, não sendo da escola, emergem na escola, pois os miúdos e adolescentes passam aí o seu dia.
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