quinta-feira, maio 07, 2009

O negócio das vacinas: caso do VPH

A grande indústria farmacêutica destacou-se sempre pela busca pouco escrupulosa de lucro. Por muitos anos foi o sector industrial com maior percentagem de ganhos. Em 2008, dez empresas controlavam 55 % do mercado global de produtos farmacêuticos: Pfizer, GlaxoSmithKline, Sanofi-Aventis, Roche, AstraZeneca, Johnson & Johnson, Novartis, Merck, Wyeth (engolida pela Pfizer em 2009) e Lilly.

Quando não encontram novos mercados, inventam-nos. Criam doenças, dando novos nomes a situações que não exigiam tratamento com fármacos, com marketing agressivo sobre os seus supostos benefícios. A tendência actual é comprar empresas de biotecnologia e lançar-se, por um lado, a promover a investigação genómica, esperando criar novos nichos de mercado se nos convencerem de que devemos sequenciar os nossos genes para saber como nos sentimos; e, por outro, criar um mercado para vacinas transgénicas, como é o caso da controversa vacina para o vírus do papiloma humano (VPH).

As vendas de produtos farmacêuticos têm tido um crescimento anual de 5-6 %, mas o mercado de vacinas aumentou até 20 % anualmente, e espera-se que chegue a 36 mil milhões de dólares anuais em 2013. Quatro empresas controlam 91,5 % do mercado mundial de vacinas: Merck, GlaxoSmithKline, Sanofi Aventis e Wyeth [1]

Em 2007, pela primeira vez, as vacinas para adultos superaram as vendas de vacinas pediátricas, importante factor de criação de novos mercados. A contribuição mais importante foi o suculento negócio das vacinas do VPH, algumas de cujas mais de 100 cepas estão associadas ao desenvolvimento de cancro cérvico-uterino. Há duas vacinas no mercado: Gardasil, da Merck, que actua sobre as cepas 6, 11, 16 e 18 e Cervarix, da GlaxoSmithKline, sobre a 16 e a 18. Segundo as companhias, os tipos 16 e 18 estão associados a 70 % dos casos de cancro cérvico-uterino.

Essas vacinas, produto de processos de transgenia, foram erroneamente propagandeadas como vacinas contra o cancro. Apesar do seu custo exorbitante, efeitos secundários e restrito campo de acção, foram compradas nos últimos anos por vários sistemas de saúde públicos para campanhas de vacinação em massa de meninas púberes, adolescentes e mulheres jovens. Desde 2008 são obrigatórias para mulheres dos 11 aos 26 anos que solicitem visto de imigrante nos Estados Unidos, a seu próprio custo. O único dado não controverso desta vacina são os altíssimos lucros das empresas: o Gardasil trouxe à Merck 1.500 milhões de dólares apenas em 2007.

Muita gente pode pensar que os custos se justificam porque a vacina protegeria contra um cancro de alta incidência. No México, segundo dados do INEGI, morrem mais de 4 mil mulheres por ano de cancro cérvico-uterino, 1,7 % das mortes femininas registadas. A infecção pelo VPH é uma das mais difundidas no mundo e estima-se que até 80 % da população pode ser contagiada em algum momento da sua vida. No entanto, em oito em cada 10 casos, produz-se uma resistência natural ao vírus.

Enquanto no México o cancro cérvico-uterino ocupa o segundo lugar em morte por cancro feminino, nos Estados Unidos e na Europa a sua incidência tem diminuído significativamente nas últimas décadas. Isto deve-se a que a presença do vírus não implica necessariamente o aparecimento de cancro, mas que outros factores como o tabaquismo, outras infecções, desnutrição, sistema imunológico debilitado e falta de detecção oportuna dos primeiros sintomas (como controle regular com Papanicolau), coadjuvam a que derive em cancro. Trata-se principalmente de causas sócio-económicas contra as quais não existe nenhuma vacina.

O Gardasil e o Cervarix são ainda vacinas experimentais. O estudo mais amplo sobre os seus possíveis efeitos foi auspiciado e conduzido pela Merck, com ampla gama de conflitos de interesse dos cientistas envolvidos. Em 2009 tinham-se reportado ao Sistema de Notificação de Eventos Adversos em Vacinas dos Estados Unidos, mais de 10 mil casos – e estima-se que só se reportam 10 % dos casos. Destes, 458 foram hospitalizados e 29 faleceram (ver o excelente artigo de Asa Cristina Laurell, La Jornada, 04/03/2009 [2]). Entre os efeitos secundários, inclui-se que a vacina pode promover cancro a partir de outras cepas de vírus presentes no organismo, abortos espontâneos em mulheres grávidas depois da vacinação, paralisia e outros.

A vacina foi testada em ensaios clínicos com mulheres de 15 a 23 anos, mas a vacinação está a ser praticada em meninas desde os nove, sobre as quais se desconhecem os seus efeitos. Segundo o estudo mencionado, a vacina teve um efeito preventivo em lesões pré-cancerosas, mas se evitarão o cancro cérvico-uterino, só se saberá dentro de 25-30 anos.

Não obstante e embora por estes e muitos outros dados, associações médicas e de cientistas em Espanha, Canadá e Alemanha exijam uma moratória para estas vacinas, o México tem embarcado a sua população numa grande experiência de vacinação em massa (e consideram-no outros países da região como a Argentina, o Brasil, o Chile, o Equador, o Paraguai, o Uruguai e a Venezuela), gastando somas milionárias de dinheiro público que deveriam ser utilizadas para verdadeira prevenção, em lugar de oferecer às transnacionais farmacêuticas o dinheiro e o uso das suas populações como cobaias.
http://infoalternativa.org/spip.php?article852

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