1. Uma Europa em silêncio.
De eleições europeias é costume esperar-se recordes de abstenção, em Portugal como nos países fundadores da União Europeia. Não é de estranhar: a Europa é um espaço de cidadania empobrecida, em que as grandes decisões são vedadas aos povos, afastados da palavra constituinte. A participação nas eleições europeias ressente-se desse défice, não faltando quem as veja como uma mera compensação democrática. Isso explica a abstenção europeia.
2. Um castigo fraco.
A votação do PSD salva a sua frágil direcção, mas não disfarça um resultado ao pior nível, semelhante ao de Santana Lopes em 2004, quando o PSD bateu no fundo. Este é um castigo fraco para a governação do PS. Mesmo assim, Sócrates tentará usar os resultados do PSD para apelar ao voto útil. Mas estes resultados mostram bem que o problema é de referência política global, de credibilidade do centrão e de desgaste da bipolarização. Nunca os partidos do meio tiveram percentagem tão baixa.
3. Um castigo forte.
O reforço eleitoral das esquerdas de oposição é o castigo que mais dói ao governo. Aqui, a novidade que mais impressiona é o crescimento do Bloco. Numa eleição de fraca afluência, o Bloco tem o maior número de votos de sempre – mais de 380 mil – e torna-se terceira força política no país. Trata-se de um desenho novo do mapa político que mostra que a resposta socialista à crise do capitalismo é escutada amplamente e que o papel do Bloco na convergência das esquerdas é reconhecido também nas urnas. Este apoio vem de um sector social amplo, que toma a palavra em todo o país, nas zonas rurais ameaçadas pela desertificação como nos territórios urbanos atingidos pelo desemprego e a precariedade, entre os eleitores das mesas eleitorais da juventude como entre os idosos ameaçados pela pobreza e o abandono.
4. Uma força local.
Os resultados das europeias evidenciam também a importância da intervenção local do Bloco, do protagonismo de núcleos fortes e da permanência de uma intervenção autárquica combativa e empenhada. Se cresce em todo o país, o Bloco cresce mais onde tem uma intervenção local mais forte. Onde tem vereadores eleitos – Moita (16,7%); Entrocamento (20,1%); Salvaterra (17,8%) – ou intervenção política local reconhecida – Portimão (17%); Sintra (14,7%); Caminha (11%), entre muitos outros exemplos possíveis.
5. Um aviso vindo do futuro.
Depois de votar, José Sócrates alinhou o costumeiro apelo à participação eleitoral. Naquela secção da freguesia do Coração de Jesus, em Lisboa, votam os recém-inscritos nos cadernos eleitorais, os mais jovens e quem, como o primeiro-ministro, se mudou há pouco para a freguesia. Na urna onde deixou o seu boletim, já muitos o tinham feito antes e muitos mais o fizeram depois. Ao final do dia, chegava a notícia. O boletim de Sócrates ficou em minoria absoluta. Na secção de voto do primeiro-ministro, a força mais votada foi o Bloco de Esquerda.
http://infoalternativa.org/spip.php?article937
Sem comentários:
Enviar um comentário