O “presidente” Mahmud Ahmadinejad – e as aspas são cada vez mais apropriadas no Irão de hoje – está em verdadeiros apuros. Há neste momento três inquéritos oficiais separados sobre a sua suposta vitória eleitoral e a violência que se seguiu, enquanto deputados iranianos conservadores se enfrentam usando os punhos numa reunião privada atrás do plenário da assembleia, depois de os deputados [apoiantes] de Ahmadinejad se terem oposto a uma referência oficial à “dignidade” com que o líder da oposição, Mir Hossein Mussavi, respondeu às perguntas dos parlamentares. Aqueles próximos do homem que ainda acredita ser o presidente do Irão dizem que o próprio está muito abalado – mesmo traumatizado – pelas manifestações maciças contra ele em todo o país.
Dezenas de milhares de apoiantes de Mussavi marcharam vestidos de preto pelas ruas do centro de Teerão ontem ao fim da tarde, numa emotiva demonstração de luto – a segunda em dois dias – pelos mortos posteriores à eleição. Numa cidade simbolizada pelo seu trânsito brutal e altíssimos níveis de decibéis, caminharam em silêncio total por cinco quilómetros, portando faixas e cartazes lamentando as mortes na Praça Azadi, na Universidade de Teerão e noutras cidades iranianas. E não tinham dúvidas sobre os riscos políticos – e físicos – que estavam a assumir.
Um engenheiro químico marchando no centro do grande cortejo negro pensou alguns segundos quando lhe perguntei o que vai acontecer depois. «Ninguém sabe, mas pensamos nisso o tempo todo», respondeu por fim. «Não podemos parar agora. Se pararmos agora, eles vão comer-nos. O melhor seria que as Nações Unidas ou alguma organização internacional monitorizasse outra eleição». Com tais ilusões se constrói o desastre.
Mas a mulher desse mesmo homem estava com um humor que quase pertencia à vasta multidão negra de ontem. Ela é advogada comercial, mas estudou psicologia. «Se deixarmos andar agora, vamos enfrentar alguém como Pinochet – e os nossos ditadores aqui nem sequer são ditadores actualizados», disse-me sem um esboço de sorriso. «A minha experiência em psicologia é muito útil. Ahmadinejad tem um clássico problema de psicose. Mente muito e é alucinatório, e o problema é que ele pensa que tem boas relações com alguém lá em cima!» E, neste ponto, a senhora apontou para cima, na direcção geral do céu. Mas sem piadas com a religião. Estes manifestantes entoavam a oração “salavat” muçulmana, saudando o profeta Maomé e a sua família.
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