sábado, junho 27, 2009

Os símbolos não são suficientes para ganhar esta batalha

Não se derrubam revoluções islâmicas com as faróis do carro. E muito menos com velas. Os protestos pacíficos podem ter servido bem Gandhi, mas o Líder Supremo do Irão não vai preocupar-se com alguns milhares de manifestantes nas ruas, mesmo que cantem “Allahu Akbar” dos seus telhados todas as noites.

Este coro a Deus emanou dos telhados de Kandahar todas as noites depois da invasão soviética do Afeganistão em 1979 – eu próprio ouvi-o em Kandahar e ouvi-o na semana passada nos telhados de Teerão – mas não impediu o curso seguido pelos russos mais do que vai impedir os Basiji ou os Guardas Revolucionários. Os símbolos não são suficientes.

Ontem, os Guardas Revolucionários – que são tão pouco eleitos como tão pouco representativos da juventude iraniana de hoje – proferiram as suas ignominiosas ameaças de lidar com os «desordeiros» de «forma revolucionária».

Todos no Irão, mesmo aqueles demasiado jovens para se lembrarem do massacre dos opositores ao regime em 1988 – quando dezenas de milhares foram enforcados como tordos – sabem o que isso significa.

Largar um enxame de forças governamentais armadas nas ruas e afirmar que todos aqueles que são alvejados são “terroristas” é uma cópia quase perfeita da reacção pública do exército israelita à intifada palestiniana. Se manifestantes que atiram pedras são mortos a tiro, então a culpa é deles mesmos, estão a infringir a lei e estão a trabalhar para potências estrangeiras.

Quando isto acontece nos territórios ocupados pelos israelitas, estes alegam que as potências estrangeiras do Irão e da Síria estão por detrás da violência. Quando isto acontece nas ruas das cidades iranianas, o regime iraniano alega que as potências estrangeiras dos Estados Unidos, Israel e Grã-Bretanha estão por detrás da violência.

E foi de facto uma intifada que rebentou no Irão, por muito pouco esperançosos que sejam os seus objectivos. Milhões de iranianos simplesmente já não aceitam a lei porque acreditam que a lei foi corrompida por uma eleição fraudulenta. A perigosa decisão do Líder Supremo, Ali Khamenei, de colocar todo o seu prestígio por trás de Mahmud Ahmadinejad apagou qualquer hipótese de ele poder emergir acima da disputa como um árbitro neutral.

Parentes do poderoso aliado de Mir Hossein Mussavi, Ali Akbar Rafsanjani, são presos e depois libertos; Mussavi é ameaçado com a prisão pelo presidente do Parlamento. Contudo, um dos mais populares clérigos e aliado de Mussavi, Mohammad Khatami, permanece intocado.

Mussavi pode ter sido primeiro-ministro, mas Khatami foi presidente. Tocar em Khatami retiraria a futura protecção de Ahmadinejad. E o amigo político poderoso deste último, o ayatollah Yazdi, que gostaria de ser o próximo Líder Supremo, é uma ameaça para Khamenei. E ao passo que todos os corpos sangrentos nas ruas das cidades do Irão serão agora declarados como “terroristas” pelos amigos de Ahmadinejad, serão honrados pelos seus inimigos como mártires.

Mussavi, para ganhar, necessita de organizar o seu protesto de forma mais coerente, não fazê-lo em cima do joelho. Mas terá Khamenei um plano a mais longo prazo que a mera sobrevivência?

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