quinta-feira, junho 04, 2009

A redução da velocidade de queda

A memória da economia de mercado e dos media corresponde aproximadamente à memória de uma criança de três anos. No entanto, talvez deva ser recordado o “serviço” de previsões das instituições oficiais, relativamente à evolução da economia global. No Verão de 2008 ainda se celebrava, em previsões que iam até 2020, a retoma da conjuntura, nunca reconhecida como conjuntura de deficit. À medida que a crise financeira se começava a manifestar, havia "fins de alerta" periódicos. O pior já passou, ouvia-se ainda em Setembro. Após as "Segundas-Feiras Negras" nas bolsas de valores, insistiu-se na afirmação de que a economia real era saudável em si mesma e apenas seria um pouco afectada pelo desastre da economia financeira. Para 2009 esperava-se um crescimento apenas ligeiramente mais fraco. Quando a economia mundial entrou em queda, os institutos económicos, acometidos de dúvidas sobre si mesmos, já não se dispunham a emitir mais qualquer prognóstico. Mas o aprendido não esquece. Recentemente, o título da "Wirtschaftswoche" era: "Hurra, ainda estamos vivos". O optimismo profissional apropriou-se da fórmula segundo a qual, de acordo com o Instituto IFO, a velocidade da queda teria começado a abrandar.

Mesmo fisicamente, trata-se de uma imagem bastante enviesada, porque em queda não se consegue abrandar; a questão, quando muito, é a natureza da aterragem. O novo optimismo faz lembrar a velha anedota do homem que caiu do avião sem pára-quedas e, a meia altura, diz: "Até aqui tudo bem". Que um colapso histórico se possa resolver a contento de todos apenas em alguns meses é, naturalmente, uma esperança vã. A crise económica mundial não se desenvolve linearmente, mas aos solavancos. Se neste momento se tem esperança no alcance dos programas económicos globais, no valor de aproximadamente dois biliões de dólares, está-se a esquecer o que é decisivo. Em primeiro lugar, os esqueletos no armário dos balanços dos bancos e dos conglomerados empresariais estão ainda longe de ter sido removidos; os “bad banks” simplesmente adiaram o problema e ainda está para vir a próxima onda de write-off necessários (como por exemplo nos sistemas de cartões de crédito). Em segundo lugar, com a transferência do crédito para o Estado, o potencial inflacionário está à espreita; a curto prazo uma conjuntura inflacionária poderia passar por cima das barreiras levantadas contra a crise. E, em terceiro lugar, não há quaisquer novos potenciais de valorização real à vista, que pudessem gerar uma retoma auto-sustentada, de acordo com o "motor de arranque" keynesiano baseado na dívida.

A parte de leão dos programas conjunturais coube até agora à China. Lá já se pagam subsídios do Estado para a compra de frigoríficos e máquinas de lavar. Mas com isso nem sequer se pode compensar no curto prazo a ruptura da exportação de sentido único. Mesmo com um subsídio, o poder de compra do mercado interno chinês é demasiado pequeno para poder compensar a queda do consumo dos EUA. Além disso, os subsídios do Estado aplicam-se apenas aos bens produzidos na China e não ajudam nada os exportadores do resto do mundo. O programa de simulação está a ser pago a partir do gigantesco excedente de divisas, em moeda dos EUA, divisas ameaçadas de desvalorização pelos igualmente gigantescos pacotes de salvamento, financiados pelo banco central nos EUA. É de esperar um surto de inflação nos EUA e na China, a irradiar para todo o mundo, estando simultaneamente iminente a segunda onda da queda do consumo dos EUA e, consequentemente, da exportação global. A próxima vergonha do "pensamento positivo" é inevitável. Ilimitada parece ser apenas a perda de realidade das elites capitalistas, que já não sabem que fazer.

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