O jogo de José Sócrates é, desde domingo, o da sobrevivência. Os seus olhos continuam firmemente fixados no poder do Estado, porque sabe que, sem ele, será inexistente. Sendo um político pós-moderno que tudo deve à imagem, é um produto que só vive enquanto seduz as massas. Assim, Sócrates não sobreviverá ao seu prazo de validade. Sócrates sempre se guiou por um teleponto. Só que este agora treme, como se viu nas suas palavras, atabalhoadas, após a derrota. O grande problema é que Sócrates está refém de um estilo de governação que utilizou metodicamente durante quatro anos. Arrogante, indiferente às dúvidas, ocultando as objecções. Sócrates não tem dúvidas. Mas as dúvidas deixaram de ter respostas dele. Mas o PM só sabe governar assim. Como é que poderá, em três meses, mudar? Sócrates não tem Plano B. Não fará uma higiénica remodelação do Governo, porque ela não servirá para nada. Nenhum Botox muda a aparência de Sócrates. Ele, contrariamente ao que prometeu, não deu respostas nem à classe média, nem aos que trabalham nos sectores produtivos. Agrediu-os, cercou-os de impostos e de propaganda e não os escutou. O resultado está à vista. O Governo inicia agora uma longa marcha até às legislativas, onde o PS já não tem muitas hipóteses de optar por um discurso menos arrogante e mais amável. Sócrates sempre entendeu os eleitores como consumidores. Para ele tudo o que é imagem é a realidade. E tudo é mercadoria. O que se dá, pede-se de volta. Só que Sócrates deu muito pouco para pedir votos como contrapartida.
In Jornal de Negócios
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