Uma modesta proposta para as terras com guarnições militares
O Império de Bases dos EUA – sendo, com o custo de US$102 mil milhões por ano, o mais caro empreendimento militar do mundo – ficou subitamente muito mais caro. Para começar, a 27 de Maio descobrimos que o Departamento de Estado construirá uma nova "embaixada" em Islamabad, Paquistão, que com o custo de US$736 milhões será a segunda mais cara de sempre, por apenas menos 4 milhões de dólares (se não houver derrapagem) que a erigida em Bagdad, com o mesmo tamanho da cidade do Vaticano. Também consta que o Departamento de Estado comprará o hotel de cinco estrelas Pearl Continental (com piscina incluída) em Peshawar, perto da fronteira com o Afeganistão, para ser utilizado como consulado e quartel-general do Estado-Maior americano.
Infelizmente para estes planos, a 9 de Junho militantes paquistaneses mandaram um camião cheio de explosivos contra o hotel, matando 18 ocupantes e ferindo 55, fazendo ainda colapsar uma ala inteira da estrutura. Não houve mais notícia sobre a possível compra por parte do Departamento de Estado.
Quaisquer que acabem por ser os custos, não serão integrados no já anafado orçamento militar, apesar de nenhuma destas estruturas ser desenhada para ser uma verdadeira embaixada – local onde os habitantes se desloquem para obter vistos e onde representantes estado-unidenses defendam interesses comerciais e diplomáticos do seu país. Em vez disso, estas ditas embaixadas serão locais blindados e com altos muros, similares a fortalezas medievais, onde espiões, soldados, agentes de serviços secretos e diplomatas tentarão manter debaixo de olho populações hostis em regiões em guerra. Podemos prever com alguma certeza que albergarão um grande contingente de fuzileiros e incluirão um heliporto no telhado para fugas rápidas.
Pode até ser reconfortante para os empregados do Departamento de Estado que trabalhem em lugares perigosos saber que têm alguma protecção física, mas também deve ser evidente para eles, assim como para as pessoas dos países em que trabalham, que agora fazem parte de uma presença imperial americana do estilo "cara-a-cara". Não nos devemos surpreender quando militantes preferirem atacar os EUA através das suas embaixadas-base, por muito que estas estejam fortemente guardadas, a atacar as bases militares.
E o que está a acontecer às bases militares – agora próximo de 800 espalhadas por todo o globo nos países dos outros? Enquanto o Congresso e a Administração Obama discutem à minúcia os custos das injecções nos bancos, um novo plano para a Saúde, controlos para a poluição e outros gastos domésticos necessários, ninguém sugere que encerrar alguns destes impopulares enclaves imperiais poderia ser uma boa maneira de poupar dinheiro.
Em vez disso, elas evidentemente começam a ficar mais caras. A 23 de Junho descobrimos que o Quirguistão, antiga República Soviética da Ásia Central, em Fevereiro de 2009 anunciara que expulsaria a base militar da Base Aérea de Manas (usada desde 2001 como apoio à guerra no Afeganistão). Foi no entanto "persuadido" a deixá-la permanecer no território: em troca do favor, a renda anual que Washington paga pela utilização da base mais que triplicará, de US$17,4 milhões para 60 milhões, com mais alguns milhões a entrarem em investimentos prometidos nos aeroportos e em outros adoçantes financeiros. Tudo isto porque a administração Obama, tendo-se comprometido no alargamento da guerra na região, está convencida de que necessita esta base para armazenar e enviar abastecimentos para o Afeganistão.
Suspeito que esta recente notícia não passará despercebida em outros países em que os EUA também são ocupantes impopulares. Por exemplo, os equatorianos já disseram aos estado-unidenses para abandonarem a Base Aérea de Manta no próximo mês de Novembro. Claro que têm de pensar no seu orgulho, para não falar do facto de não gostarem de os americanos andarem a fazer incursões na Colômbia e no Peru. No entanto, podem resolver o problema encaixando mais dinheiro.
E o que dizer dos japoneses que, há mais de 57 anos, têm pago imenso dinheiro para manter bases americanas no seu território? Recentemente chegaram a um acordo com Washington para deslocar algumas bases de fuzileiros de Okinawa para o território estado-unidense de Guam. No processo, no entanto, foram forçados a pagar não só o custo da mudança para Guam como a construção das estruturas nesse território. Será possível que sigam a pista deixada pelo Quirguistão e digam apenas aos americanos para saírem e pagarem a mudança se quiserem? Poderão ainda simplesmente deixar de pagar ao pessoal militar americano que viola com alguma regularidade mulheres japonesas (a um ritmo de cerca de duas por mês) e que faz com que a vida perto das 38 bases militares em Okinawa seja simplesmente insuportável. É isto certamente que os habitantes de Okinawa esperam e é por isso que rezam desde a sua chegada em 1945.
De facto, tenho uma sugestão para outros países que comecem a fartar-se da presença militar americana no seu território: cobrem agora, antes que seja tarde demais. Digam aos EUA que subam a parada ou que vão para casa. Encorajo este comportamento porque estou convencido que o Império de Bases dos EUA entrará muito brevemente em bancarrota, arrastando o país consigo. Numa analogia à bolha financeira ou a um esquema de pirâmide – se é um investidor, é melhor tirar o seu dinheiro enquanto ainda pode.
Isto foi, claro, algo que ocorreu aos chineses e a outros financiadores da dívida nacional americana. Só que eles têm estado a retirar o dinheiro silenciosa e calmamente, de modo a não explodirem com o dólar enquanto ainda têm reservas nesta moeda. Mas que não hajam dúvidas: quer estejamos a ser sangrados lenta ou rapidamente, estamos a sangrar, e apoiarmo-nos no nosso império militar e em todas as bases militares a ele atreladas levará ao fim dos Estados Unidos como os conhecemos.
Contem com isto: futuras gerações de americanos em viagem pelo estrangeiro não encontrarão espalhadas pelas paisagens "embaixadas" de milhares de milhões de dólares.
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