sexta-feira, julho 03, 2009

Diário da Palestina

Directo de Ramallah, Palestina

1. A RESISTÊNCIA CULTURAL

Uma ocupação colonial não é apenas uma ocupação militar. Ela precisa tentar impedir a sobrevivência da cultura, da memória do povo ocupado. Mais ainda se se trata da ocupação de um povo com uma das mais antigas histórias e mais ricas culturas.

Como era impossível que a Capital da Cultura Árabe pudesse ser Bagdade, pela ocupação das tropas norte-americanas, foi decidido que Jerusalém (que eles chamam de Al-Quds) fosse a Capital da Cultura Árabe de 2009. As comemorações têm sido vítimas das mais violentas e odiosas repressões das tropas israelenses de ocupação. Organizar lindas actividades em torno da cultura árabe, que deveriam realizar-se nas ruas e praças de Jerusalém, passou a ser um imenso desafio para o Comité Palestino de Organização, por dificuldades de recursos, de convidar pessoas – poetas, músicos, cantores, artistas do mundo árabe e de outras regiões do mundo – para vir a uma região cercada e ocupada.

O acto de apresentação do logotipo dos eventos, programada para se dar no Teatro Nacional de Jerusalém, em Abril do ano passado, foi proibido por Israel, declarado ilegal e reprimido brutalmente por forças militares para tentar impedir a sua realização. Foram presos três dos membros do grupo organizador.

Apesar de todas as dificuldades, deu-se início às comemorações no dia 21 de Março deste ano, com actividades populares nas ruas de Jerusalém, que terminaram com uma noite de gala em Bethlehem. Israel enviou tropas contra crianças que carregavam balões com as cores da bandeira palestina – vermelhas, brancas, verdes e pretas. As tropas de ocupação atacaram os jovens que iam realizar danças tradicionais palestinas, com as suas roupas típicas, produzindo cenas de pânico e desespero.

Como reacção, todas as escolas, universidades, centros culturais, prefeituras de dentro ou de fora da Palestina, decidiram assumir a celebração organizando actividades sobre a bandeira e o logotipo de Jerusalém Capital da Cultura Árabe de 2009. Centenas de eventos aconteceram em muitos países como mostra de solidariedade e de protesto contra a repressão israelense. Fica claro, cada vez mais, que não se trata da ocupação e da acção militar contra “forças terroristas”, como alegam os ocupantes, mas contra a resistência da cultura palestina.

Os palestinos adoptaram o lema: “Jerusalém une-nos e não deve dividir-nos”, reforçando a necessidade de união de todos os palestinos para derrotar a ocupação e pela conquista do direito de um Estado palestino, reconhecido pelas Nações Unidas, mas impedida pelos EUA e por Israel.

«Uma vez libertada, Jerusalém não será apenas a inquestionável capital da cultura árabe, mas será a cidade da diversidade cultural e religiosa, da tolerância e do respeito pelos outros. Uma cidade aberta para a paz cujos tesouros históricos e religiosos serão desfrutados por todos, do leste e do oeste. O único muro que a cercará será o muro histórico da sua Cidade Velha e suas 12 portas, incluindo a Porta de Ouro que, uma vez aberta, levará todos os povos do bem para o céu.»

As palavras são de Ragiq Husseini, presidente do Conselho Administrativo do Comité Nacional pela Celebração de Jerusalém como Capital da Cultura Árabe em 2009. Estar aqui, chegar a Ramallah revela, com toda a força, como este é um território ocupado, cruzado por muros que dividem os próprios palestinos, povoado de tropas e de carros militares, submetendo este heróico povo à ocupação, à opressão, à humilhação, na mais grave situação de violação dos direitos humanos – políticos, sociais, económicos, culturais – no mundo de hoje.

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