A educação, conforme tem ido a política educativa, está demasiado cara. Diria mesmo: a educação, como está, é um desperdício financeiro, de recursos humanos e não só. Vejamos:
1º Trabalham na educação os profissionais mais altamente qualificados do país e os resultados não só no Português (Língua Portuguesa), mas também na Matemática e nas ciências de uma maneira geral (Físico-química, Biologia, etc.) continuam muito fracos. E porquê? Se os professores são dos profissionais com as mais elevadas habilitações literárias (muitos licenciados, outros mestrados e até doutorados mesmo nas áreas científicas que leccionam), não se percebe por que razão a generalidade dos alunos portugueses não aprende, quando os filhos dos imigrantes de Leste e outros são, genericamente, dos melhores alunos, mesmo em Língua Portuguesa! Será por razões económicas ou devido à pobreza que grande parte dos alunos portugueses não aprende?! Se fosse esta a causa, certamente os filhos dos imigrantes – porque têm grandes dificuldades pois seus pais trabalham, muitas vezes, em profissões mal remuneradas que os nacionais recusaram – seriam certamente maus alunos. E isso, geralmente, não se verifica. Então o problema está noutro lado.
2º A educação está muito cara e tem-se tornado num desperdício porque a sociedade e a política portuguesas não têm valorizado quem tem cultura, quem, de facto, está mais habilitado e tem mais saber: todos sabemos que o “sucesso” na política e na sociedade não anda associado a altas habilitações, mas a certos negócios e ao carreirismo nos aparelhos partidários dos partidos do poder que, misturado com a providencial cunha, dá uma mistura perigosa a qual tem contribuído, drasticamente, para o nosso permanente atraso, enquanto os mais habilitados, deixados à sua sorte, ficam em posição de subordinação e nada podem fazer para além do protesto ou, então, porque já não têm paciência para aturar esta situação, emigram para outras paragens onde o seu saber e capacidades são vastamente reconhecidos e recompensados. Estrangeiros, em sua pátria, emigram interiormente ou externamente!
3º A desvalorização da cultura e do saber e a atenção social e mediática sobre a mediocridade e o “sucesso” fácil e/ou de lucros imediatos, mas sem, na maior parte das vezes, qualquer mérito reconhecido, provocam desmotivação aos nossos jovens: quem tem cultura e saber vive mal ou muito abaixo daqueles que subiram por outras vias. Portanto, qual o interesse de estudar?! Não conhecemos licenciados, mestres e doutores desempregados e em grande dificuldade?! Em contrapartida, fulano de tal, que nunca fez nada na vida, vive bem e tem sucesso garantido e gosta de que lhe chamem “doutor” ou “engenheiro”, apesar de nunca ter estudado e de ter “feito” o curso muito rapidamente, primeiro na Jota e, depois, numa universidade do partido ou do Brasil ou dos EUA. E, com alunos que não querem aprender, porque esta via não lhes é apresentada como a do sucesso, bem pelo contrário, é muito difícil, ou mesmo impossível, ensinar seja o que for.
4º O materialismo da nossa sociedade consumista desvalorizou o imaterial, o invisível, o não ostentatório, como o saber e a cultura, ao mesmo tempo que valorizou o visível e material, os bens de consumo e o dinheiro e, consequentemente, a escola passou a ser vista, por uma boa parte das crianças e adolescentes, como uma “seca” porque exige atenção, concentração, motivação e esforço para o saber, para as fórmulas matemáticas ou físicas, para os discursos literários ou filosóficos, para o pensamento e reflexão, e isso é uma maçada porque é muito mais fácil digitar no teclado do portátil, do Magalhães, do telemóvel e ver no Google a informação já
“pronta a servir”, prête à porter ou take away, mas sem a interpretar, conhecer ou saber… Daí o desinteresse pelo saber, a desmotivação e, em parte, a indisciplina.
Ao contrário do que alguns bem-pensantes da direita ou da esquerda, completamente alheios da realidade do ensino, defendem, o insucesso escolar e a indisciplina não se devem à pobreza, mas, ao contrário, ao excesso de bens, ao facilitismo e ao acesso fácil dos bens de consumo e até da “informação” sem uma educação e preparação séria dos pais e da população portuguesa que, na sua generalidade, não estava nem está, de modo algum, preparada para a sociedade consumista a qual nos era – ainda há bem pouco tempo, não mais que três décadas – totalmente desconhecida: vivíamos do que a terra e o mar davam e dos produtos comprados na feira ou no mercado e nas lojas dos centros urbanos! Não havia tanta oferta de produtos nem em quantidade, nem em diversidade… O progresso material não foi, devidamente, acompanhado do progresso cultural, moral e cívico…
5º A política educativa, centrando-se apenas no professor e descorando todos os outros agentes e factores, continuando, até ao limite do absurdo, o «eduquês», não nos conduz a parte nenhuma: vejam-se os resultados dos alunos nos exames e, sobretudo, os resultados do PISA que ainda estão para sair! Qual tem sido a solução? Em vez de se analisar e avaliar correctamente as causas, esconde-se o problema iludindo-o: promove-se o facilitismo, aligeira-se a exigência, simplificam-se os programas, desvalorizam-se os exames, tudo para combater os números negros do insucesso e, assim, os alunos vão transitando de modo que muitos chegam à Universidade quase analfabetos funcionais, limitando-se ao Google e ao copy & paste para fazer os “seus” trabalhos! Não basta saber fazer “umas coisas”, ser um mero executor de tarefas acéfalo, é preciso saber… e saber estar e saber ser. E isto tem sido desvalorizado! Logo, tanto investimento e dinheiro deitados ao lixo: em papel, em recursos humanos, em «formações», em vencimentos, em leis, decretos-lei, decretos-regulamentares, despachos, circulares, etc. A educação, assim, está demasiado cara, é um desperdício!
6º Se existisse uma correcta e séria política educativa que alterasse todo este estado de coisas, a educação seria o melhor investimento de futuro do país. Um povo educado e culto sabe como consumir; valoriza a cultura, a arte e o património cultural e ambiental; preserva a natureza e despreza o ilusório e ostentatório; exige competência dos seus superiores profissionais, orgânicos, sociais e políticos; não elege qualquer um ou qualquer vendedor de ilusões para assumir cargos de direcção pública… Não se verga a directivas absurdas, nem se compraz com a corrupção (re)elegendo corruptos! Exerce a sua cidadania de corpo e alma não esperando que outros resolvam os problemas por si. Até apetece perguntar: a quem interessa a teimosia na manutenção deste estado de coisas… na educação? Salazar já sabia que um povo inculto era mais fácil de domar, governar!
Zeferino Lopes, Professor de Filosofia na Esc. Sec. de Penafiel,
em 29 de Julho de 2009.
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