quarta-feira, julho 08, 2009

KEYNESIANISMO NEOLIBERAL

O regresso à regulação estatal é considerado geralmente como plano de gestão da crise. O neoliberalismo deve ter sido um erro histórico, tal como antes o socialismo real. Pretende-se um posicionamento ideológico lá para onde tende, de olhos fechados, a consciência da opinião pública: no “centro” áureo, na moderada re-regulamentação keynesiana da política económica. Mas, em primeiro lugar, a doutrina neoliberal não foi um simples erro, mas uma reacção à falta de condições reais de valorização do capital. E, em segundo lugar, o neo-liberalismo de modo nenhum funcionava sem intervenção estatal; também a política de privatização e desregulamentação era uma política. Nada mudou no que diz respeito à real dificuldade de valorização, a crise simplesmente a trouxe à luz do dia. Daí que não se possa invocar a viragem keynesiana como regresso à política dos anos 70, qual "século social-democrata".

É o que se vê na letra miúda da nova euforia da regulação. O Presidente Obama anunciou uma grande reforma dos mercados financeiros, que deve instalar controlos abrangentes. Mas, ao mesmo tempo, as normas contabilísticas são modificadas para que créditos malparados e títulos sem valor possam ser ainda mais bem escondidos e transferidos. O papel do banco emissor estadual deve ser reforçado. Mas, ao mesmo tempo, é esse mesmo banco a admitir cada vez mais que sejam aceites como "garantia" no refinanciamento do sistema bancário títulos financeiros duvidosos. O Banco Central Europeu (BCE) vê-se forçado a enveredar por essa mesma via. Um controle da economia de crédito e de bolhas financeiras não muda o seu carácter. Em ambos os lados do Atlântico, o problema não resolvido foi simplesmente estatizado e adiado. A nova regulação keynesiana é mais neoliberal do que parece.

Em termos sociais, uma característica essencial da "revolução" neoliberal foi a economificação de todos os domínios da vida. Sob o título de "gestão da qualidade" todas as relações sociais tiveram de ser transformadas em "relações com clientes", e as escolas, instituições culturais e até mesmo as famílias foram transformadas em empresas. Em paralelo com a propaganda da "responsabilidade pessoal" vinha a esperança de que cada indivíduo se assumisse como uma empresa ambulante bípede. Também isso foi uma tentativa de redefinir de qualquer maneira a falta de condições reais de valorização e de passar o problema para baixo. É uma ilusão pensar que possa haver um regresso ao Estado social e à prestação de serviços públicos, apenas porque o Estado assume o comando novamente. Como a crise capitalista se agravou, a economificação totalitária prossegue sob direcção estatal. Na Alemanha, poderá haver um rude despertar após as eleições federais, quando a administração da crise anunciar mais atrocidades e, por maioria de razão, remeter os novos caídos fora à "responsabilidade pessoal" sem perspectivas.

Não é surpreendente que o keynesianismo de crise se revele a continuação do neoliberalismo por outros meios. Ambas as doutrinas se ligam incondicionalmente ao modo de produção capitalista, como pressuposto inultrapassável. Nesta crise histórica eles tornam-se idênticos, porque tanto o Estado como o mercado apenas podem executar os limites da valorização do capital no corpo da sociedade. Dois mortos vivos da política económica juntos não constituem qualquer novo arranque da máquina da valorização.
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