Dados da OCDE mostram que o desemprego em todo o mundo vai continuar a crescer
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou em 24 de Junho uma visão optimista sobre a evolução da crise económica. Fala mesmo em luz ao fundo do túnel. Mas, vistas as coisas em concreto, a luz não será para todos.
A OCDE dá a fase de contracção das economias dos países mais desenvolvidos como tendo chegado ao fim, depois de um recuo sem precedentes “desde o fim da segunda guerra mundial”. A retoma, no entanto, apresentar-se-á “fraca e frágil”, diz a organização, e a situação não será igual em todas as partes do mundo.
Onde reside então o optimismo da OCDE? No facto de encontrar sinais de retoma económica nos EUA e no Japão e de isso poder significar, por arrasto, uma recuperação de outras grandes economias como a chinesa. Na zona euro, em contrapartida, as coisas continuam sombrias.
Os números do optimismo traduzem-se na previsão de uma quebra económica nos países da OCDE, para este ano, de “apenas” 4,1% (quando antes eram previstos 4,3%) e num crescimento positivo de 0,7% em 2010 (em lugar do crescimento negativo antes apontado de 0,1%).
Nos EUA o crescimento será de 0,9% no próximo ano (antes falava-se em estagnação) e no Japão admite-se agora um crescimento de 0,7% (contra um decréscimo de 0,5%) que sucederá a uma forte quebra este ano. Nos países da zona euro a contracção económica será de 4,8% este ano (pior que os 4,1% previstos em Março), seguindo-se uma estagnação no ano que vem (em vez de uma queda de 0,3%).
Para termo de comparação, diga-se que o crescimento chinês se situa presentemente à roda dos 7%, depois de ter andado durante anos seguidos acima dos 10%.
O optimismo dos autores do estudo é atraiçoado quando reconhecem que “faltará tónus” a esta retoma. E sobretudo quando apontam os fracos em que assenta. Concretamente: possibilidade de novas turbulências no sistema financeiro mundial e crise dos mercados obrigacionistas por força do aumento da dívida pública dos Estados – isto é, Estados muito endividados não podem garantir o pagamento dos dividendos das obrigações que emitem.
Mas o ponto mais significativo da questão é a evolução do emprego. A OCDE não deixa dúvidas de que a recuperação que a põe optimista será acompanhada por um agravamento do desemprego. A taxa de desemprego nos EUA atingirá 9,3% neste ano e 10,1% no ano que vem (quando foi de 5,8% em 2008). Nos países da zona euro, pior ainda: 10% neste ano e 12% em 2010 (foi de 7,5% em 2008). Mais: o crescimento do desemprego fará baixar o consumo, que por sua vez dificultará a recuperação económica.
Como as coisas têm sido apresentadas a público, parece que a contradição entre a (prevista) recuperação económica e o aumento do desemprego se deve apenas a um desfasamento no tempo. É isso que leva a OCDE a afirmar que a recuperação do desemprego se fará apenas quando “a retoma for suficientemente vigorosa”. Mas este entendimento mascara o facto de a recuperação, a haver, resultar em grande parte da redução brutal da força de trabalho. E, por isso mesmo, mascara ainda outra realidade: é que, mesmo que a recuperação se dê, grande parte dos braços que foram despedidos ficarão definitivamente no desemprego. Por aqui se confirma a tendência geral manifestada na evolução do capitalismo de concentrar de um lado a riqueza e do outro a pobreza – e de entre uma coisa e outra haver uma relação indissolúvel, como faces da mesma moeda.
http://www.jornalmudardevida.net/?p=1630
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