La révolution sociale démontrée par le coup d'État du deux decembre, 1853
A partir de 1848, e eu poderia remontar muito mais atrás, caiu uma maldição sobre os chefes políticos da França: essa maldição é o problema do proletariado, a substituição da política pela economia, da autoridade pelos interesses, numa palavra, a ideia social (p. 118).
Assim, o povo francês, nas suas massas profundas, com a centralização, que o encerra, o clero que o predica, o exército que o vigia, a ordem judicial que o ameaça, os partidos que o assediam, a feudalidade capitalista e mercantil que o domina, assemelhasse a um criminoso encarcerando, vigiado noite e dia, com cota de malhas, colete-de-forças, golilha, um feixe de palha por leito, pão negro e água como único sustento. Onde e quando se viu uma população melhor garrotada, oprimida, constrangida, submetida a uma abstinência mais severa? (127).
A emancipação do proletariado apresentava-se a alguns espíritos como o espoliamento da burguesia; os projectos variavam infinitamente, fonte inexaurível de calúnias para o partido republicano. Numa palavra, não se atreveram, não podiam atrever-se! (p. 137).
Na data de 2 de Dezembro, as massas, fatigadas, tão incapazes de deliberação como de iniciativa; a burguesia, inquieta, desejando poder repousar à sombra de um chefe complacente na protecção dos seus interesses... (p. 161) [manifestaram-se].
É que Luís-Napoleão, segundo a maneira como ele interpreta a delegação que lhe foi feita pelo povo, não aceita a revolução a não ser a título de inventário, e na medida dos seus próprios pensamentos; e em vez de se subordinar a ela, tende, mediante uma opinião exagerada dos seus ponderas, a surbordiná-la a si; e finalmente, tendo contra si todos os partidos, e não podendo, não sabendo, ou não ousando, nem pronunciar-se por nenhum, nem criar um novo que seja o seu, acha-se na necessidade de dividir os seus adversários e, para se defender, de invocar ora a revolução ora a contra-revolução (p. 198).
Aquilo que o socialismo só tinha atacado na opinião, o Dois de Dezembro provou, pelos seus actos através do caos das suas ideias, pela confusão do seu pessoal, pela contradição dos seus decretos, pelos projectos lançados, retirados, desmentidos, quão frágil era a sua estrutura, quão pobres os princípios e superficial a estabilidade (p. 219).
Assim, o Dois de Dezembro, nascido na história pelas faltas dos homens e da necessidade dos tempos, depois de ter tentado algumas reformas úteis, abandona-se, como os seus predecessores, ao arbitrário das suas concepções e cai, sem que talvez se dê conta, sem que saiba como ou porquê, da realidade social para o vazio pessoal (p. 220).
A Revolução democrática e social, ambas, entenda-se, é, doravante, para a França e para a Europa uma condição forçada, quase um facto consumado, o único refúgio que resta ao velho mundo contra uma dissolução iminente (p. 266).
O Dois de Dezembro não fará com que o sistema feudal, vencido na ordem política e religiosa, se converta de novo numa verdade na ordem industrial, quando as condições do trabalho e as leis da contabilidade se lhe opõem (p. 273).
Até hoje, Luís-Napoleão mais não fez do que servir a Santa-Aliança, atacando a democracia e a Revolução... A única recompensa que Luís-Napoleão pode obter da Santa-Aliança, como guardião e dominador da Revolução, é a sua tolerância, o seu apoio, a sua protecção (p. 277).
A Revolução não se deixa enganar, nem por um imperador vivo e vitorioso, mesmo que esteja muda, que toldos a ignorem, que ninguém fale por ela, que todos os preconceitos que combate sejam estimados e não encontrem qualquer contradição, enquanto que os interesses que serve se esqueçam de si próprios ou se vendam (p. 281).
Se há um facto que atesta a relidade e a força da revolução, esse é, sem a menor dúvida, o Dois de Dezembro (p. 282). Sim, o socialismo meteu medo, e ele vangloria-se disso! Morre-se de medo como de qualquer outra doença, e a velha sociedade não escapará desta (p. 283).
O Eliseu, elemento equívoco, sem significado próprio, é, neste momento, combatido pelos dois partidos, tendendo cada qual, com igual ardor, a liminá-lo. Trata-se efectivamente de saber se a França estará com a revolução ou com a contra-revolução (p. 285). É o que vos digo, Anarquia ou cesarismo: não saíreis daí... E aí estais vós, presos entre o Imperador e a Sociale! Dizei agora o que mais vos agrada, pois se Luís-Napoleão cair, só cairá pela revolução e para a revolução, tal como o seu tio (p. 294).
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