De la capacite politique des classes ouvrières,Póstumo,1865
Há dez meses, perguntáveis o que pensava eu do Manifesto eleitoral publicado por sessenta operários do Sena. (...) É claro que me regozijei com este despertar do Socialismo; quem, em França, teria mais direito do que eu a regozijar-me?... É claro também que eu estava de acordo convosco e com os Sessenta em como a classe operária não está representada e tem direito de o estar: como poderia eu ter outro sentimento? (p. 47).
Mas daí a participar numas eleições que teriam comprometido - com a consciência democrática, os seus princípios e o seu futuro - e eu não vo-lo escondi, cidadãos havia, no meu entender, um abismo... (p. 48).
Trata-se de mostrar à Democracia operária, que, à falta de uma suficiente consciência de si e da sua Ideia, deu os seus votos a nomes que a não representam, em que condições um partindo entra na vida política... (p. 49).
Em duas palavras: a plebe, que até 1840 não era nada, que mal se distinguia da burguesia, se bem que desde 89 estivesse, de direito e de facto, separada dela, converte-se de repente pela falta de herdeiros naturais e pela oposição à classe dos possuidores da terra e dos exploradores da indústria em algo: como a burguesia de 89, ela aspira a ser tudo (p. 62).
... A causa dos camponeses é a mesma dos trabalhadores da indústria; a Marianne dos campos é a contrapartida da Sociale das cidades. Os seus adversários são os mesmos (p. 69).
... É a emancipação completa do trabalhador; é a abolição do assalariado... (p. 70).
O problema da capacidade política na classe operária (...) equivale, portanto, a perguntar: a) se a classe operária, do ponto de visita das suas relações com a sociedade e com o Estado, adquiriu consciência de si; se, como ser colectivo, moral e livre, se distingue da classe burguesa; se separa da mesma os seus interesses, se não deseja confundir-se com ela; b) se possui uma ideia, quer dizer, se criou uma noção da sua própria constituição; se conhece as leis, condições e fórmulas da sua existência; se prevê o seu destino, o fim; se se compreende a si própria nas suas relações com o Estado, com a nação e a ordem universal; c) enfim, se desta ideia a classe operária é capaz de deduzir, para a organização da sociedade, conclusões práticas que lhe sejam convenientes, e - no caso de o poder, pela queda ou pela retirada da burguesia, lhe ser devolvido - capaz de criar e de desenvolver uma nova ordem política (pp. 90-91).
Sobre o primeiro ponto: sim, as classes operárias adquiriram consciência de si, e podemos assinalar a data desta revelação: o ano de 1848.
Sobre o segundo ponto: sim, as classes operárias possuem uma ideia que corresponde à consciência que têm de si mesmas, e que está em perfeito contraste com a ideia burguesa (...).
Sobre o terceiro ponto, relativo às conclusões políticas a extrair da sua ideia: não, as classes operárias, seguras de si e já parcialmente esclarecidos acerca dos princípios que compõem a sua nova fé, ainda não conseguiram deduzir destes princípios uma prática geral adequada, uma política apropriada... (pp. 91-92).
Negar hoje em dia esta distinção entre as duas classes, não seria mais do que negar a cisão que provocou, e que não passou de uma grande iniquidade; seria negar a independência industrial, política e civil do operário, a única compensação que este obteve; seria dizer que a liberdade e a igualdade de 89 não foram feitas para ele nem tão-pouco para o burguês... (pp. 94-95).
É pois manifesta a divisão da sociedade moderna em duas classes, uma de trabalhadores assalariados, outra de proprietários-capitalistas-empresários... (p. 96).
Enquanto a plebe operária, pobre, ignorante, sem influência, sem crédito, se apresenta a si própria, se afirma, fala da sua emancipação, do seu futuro, de uma transformação social que deve allterar a sua condição e emancipar todos os trabalhadores do globo, a burguesia, que é rica, possuidora, que sabe e que pode, não tem nada a dizer sobre si própria; desde que saiu do seu antigo meio, parece sem destino, sem papel histórico; já não tem pensamento nem vontade. Ora revolucionária, ora conservadora, republicana, legitimista, doutrinária, meio termo; por um instante cativada pelas formas representativas e parlamentares, e depois perdendo inclusivamente a inteligência; não sabendo já que sistema é o seu, que governo prefere; (...) a burguesia perdeu todo o carácter; já não é uma classe poderosa pelo seu número, pelo trabalho e pelo génio, que quer e que pensa, que produz e que raciocina, que rege e que governa; é uma minoria que trafica, que especula, que agiota, uma barafunda (p. 100).
Quer a burguesia o saiba ou não, o seu papel terminou; não pode ir longe, e tão pouco pode renascer (P. 101).
... Uma das coisas que mais importam à Democracia operária é, ao mesmo tempo que afirma o seu Direito e desenvolve a sua Força, expor também a sua ideia - e eu diria mais: produzir tal qual o seu corpo de Doutrina... (p. 103).
A revolução, ao democratizar-nos, lançou-nos no caminho da democracia inidustrial (p. 143).
Agora cabe à democracia operária encarregar-se da questão. Que ela se pronuncie, e, sob pressão da sua opinião, será bem preciso que o Estado, órgão da sociedade, actue. Se a democracia operária satisfeita por provocar a agitação nas suas oficinas, por atormentar o burguês e por chamar a atenção com eleições inúteis fica indiferente aos princípios da economia política, que são justamente os da revolução, é preciso que ela saiba que não está a cumprir os seus deveres e um dia ficará desonrada perante a posteridade (p. 151).
... O que distingue as reformas mutualistas é que elas são, simultaneamente, um produto do direito estrito e de uma alta sociabilidade: consistem em suiprimir os tributos de todo o tipo sacados aos trabalhadores... (p. 181).
... Estas associações, que poderão mesmo conservar as suas designações actuais, submetidas umas em relação às outras e em relação ao público ao dever de mutualidade, imbuídas do novo espírito, já não poderão comparar-se às suas análogas do tempo actual. Elas terão perdido o carácter egoísta e subversivo, muito embora conservando as vantagens particulares que extraem do seu poder económico. Serão outras tantas igrejas particuilares no seio da Igreja universal, capazes de a reproduzir, se fosse possível que ela viesse a extinguir-se (p. 196).
A unitdade, no,direito, já não é assinalada senão pela promessa que os diversos grupos soberanos fazem uns aos outros: 1.º) de mutuamente se governarem a si próprios e de darem com os vizinhos segundo certos princípios; 2.º) de se protegerem contra o inimigo exterior e contra a tirania do interior; 3.º) de se combinarem, no interesse das respectivas explorações e empreendimentos, como também de prestarem assistência uns aos outros nos seus infortúnios (...).
Assim, transportado para a esfera política, aquilo a que até agora chamámos mutualismo ou garantismo toma o nome de federalismo (p. 198).
O novo direito, pelo contrário, é essencialmente positivo. A sua finalidade é proporcionar, com certeza e ampliação, tudo o que o antigo direito apenas permitia fazer, a espera da liberdade, mas sem procurar as suas garantias nem os meios, sem mesmo exprimir a este respeito nem aprovação nem desaprovação (p. 221).
Podemos, de facto, dizer que, daqui em diante, entre a burguesia capitaltista-proprietária-empresária e o governo e a Democracia operária, os papéis, sob todos os pontos de vista, invertem-se: já não é a esta que se deve chamar massa, multidão, desprezível multidão; seria antes àquela. (...) Quem não pensa, quem voltou à condição de turba e de massa confusa, é a classe burguesa (...).
... Após ter rolado de catástrofe política em catástrofe política, após ter atingido o último grau do vazio intelectual e moral, vemos a alta Burguesia fundir-se numa massa, que de humano já só tem o egoísmo, procurar salvadores quando já não há salvação para ela, apresentar como programa uma indiferença cínica, e, em vez de aceitar uma transformação inevitável, chamar a si e ao país um novo dilúvio... (p. 231).
... Um pouco mais de tempo, e as classes médias, absorvidas pela alta concorrência ou arruinadas, darão entrada na domesticidade feudal ou serão lançadas no proletariado (p. 235).
A separação que eu recomendo é a própria condição da vida. Distinguir-se, definir-se, é ser, da mesma forma que confundir-se e absorver-se, é perder-se. Cindir - uma cisão legítima - é o único meio que temos para afirmar o nosso direito, e, como partido político, para nos fazermos reconhecer. E em breve se verá que é também a arma mais poderosa, como a mais leal, que nos foi dada, tanto para a defesa como para o ataque (p. 237).
Assim pois, chego à conclusão de que ao não ser o ideal político e económico perseguido pela Democracia operária o mesmo que busca em vão a classe burguesa desde há sessenta anos, nós não podemos figurar, não digo apenas no mesmo Parlamento, mas até na mesma Oposição; as palavras têm para nós um sentido diferente daquele que têm para eles; - porque nem as ideias, nem os princípios, nem as formas de governo, nem as instituições e os costumes são os mesmos... (p. 243).
Que a classe operária, se se toma a sério, se persegue algo mais que uma fantasia, não duvide: é preciso que antes de mais se liberte da tutela, e que (...) actue doravante exclusivamente por si e para si (p. 244).
Não nos esqueçamos: entre a igualdade ou direito político, e a igualdade ou direito económico, existe uma relação íntima, de modo que quando um deles é negado, o outro não tardará a desaparecer (p. 267).
Sem comentários:
Enviar um comentário