sábado, setembro 12, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

O MEU OBJECTIVO

Ter um sistema, não tenho; repugna-me formalmente tal suposição. O sistema da humanidade só será conhecido no fim da humanidade... O que me interessa, é reconhecer-lhe o rumo e, se puder, traçá-lo. (Le Peuple, artigo de 21 de Março de 1849.)
Conclui que a sociedade, aparentemente pacifica, normal, segura de si mesma, estava abandonada à desordem, ao antagonismo; que estava tão desprovida de ciência económica como de moral; que estavam na mesma situação partidos, escolas, utopias e sistemas.
Comecei portanto, ou recomecei, em novos moldes, um trabalho de reconhecimentos geral dos factos, das ideias e instituições, sem estar preso a qualquer partido, e sem outra regra de apreciação que não fosse a própria lógica.
Este trabalho nem sempre foi compreendido, no que houve seguramente erro da minha parte. Sobre questões que dizem respeito, essencialmente, à moral e à justiça, é-me impossível conservar sempre o sangue frio e a indiferença filosófica, sobretudo quando tenho que enfrentar contraditores interesseiros e de má fé. Passei, por isso, por panfletário, quando não queria ser senão critico; agitador, quando me limitava a pedir justiça; homem faccioso e odioso, quando a minha veemência tinha unicamente por fim dar relevo a pretensões mal fundadas; escritor versátil, enfim, porque estava sempre pronto a chamar a atenção para qualquer contradição, tanto àqueles que se tinham na conta de meus amigos como dos meus adversários... (Lettre à Williaumé, 29 de Janeiro de 1856).
Pedes-me uma explicação sobre o modo de reconstituir a sociedade. Quero responder-te em poucas palavras e fazer o possível por te dar, sobre este assunto, ideias precisas.
Uma vez que leste o meu livro, deves compreender que não se trata de imaginar, de combinar no nosso cérebro um sistema que se apresente em seguida; não é assim que se reforma o mundo. A sociedade não pode corrigir-se senão por ela própria, o que quer dizer que é preciso estudar a natureza humana em todas as suas manifestações, nas leis, religiões, costumes, economia política; extrair desta massa enorme... princípios gerais, que servem de regras.
Este trabalho levará séculos a ser completado. Isto parecer-te-á desesperante; mas, tranquiliza-te. Em toda a reforma há duas coisas distintas, e que são muitas vezes confundidas: a transição e a perfeição ou a conclusão...
Pelo que me respeita, oferecerei os axiomas, fornecerei exemplos e um método, e farei com que isso funcione: cabe a todos fazer o resto.
Assim, acredita que ninguém, sobre a Terra, é capaz, como quiseram dizer de Saint-Simon e de Fourier, de apresentar um sistema composto de todas as suas peças, completo, em que nada mais haja a introduzir.
Seria essa a mentira mais detestável que se poderia apresentar ao homem.
A ciência social é infinita: nenhum homem a possui, tal como nenhum homem sabe a Medicina, a Física ou a Matemática; mas podemos descobrir os seus princípios, em seguida os elementos, depois uma parte e ela irá crescendo sempre. Ora, o que faço agora, é determinar os elementos da ciência política e legislativa...
Em duas palavras: abolir progressivamente e até à extinção a fortuna eis a transição. A organização resultará do principio da divisão do trabalho e da força colectiva, combinado com a manutenção da personalidade no homem e no cidadão. (Lettre à A. Gauttier, 2 de Maio de 1841.)
Uma revolução nova, organizada, é necessária.
Em lugar deste regime governamental, feudal e militar, imitação do dos antigos reis, é preciso erguer o edifício novo das instituições industriais...
Em lugar desta centralização materialista e absorvente dos poderes políticos, devemos criar a centralização liberal das forças económicas... (Id. Gén. de la Rév., 2.º estudo.)
A revolução, depois de ter sido, sucessivamente, religiosa, filosófica, política, tornou-se económica. (Toast à la Rev., 17 de Out. de 1848.)
Um ensaio da constituição da ciência económica... uma ciência com os seus axiomas, as suas determinações, o seu método, a sua certeza própria, ciência que não fosse, nem matemática, nem jurisprudência... Não é preciso mais do que isto, para produzir a revolução.
Depois da ciência económica, uma filosofia da história que caminhe a par dela, e, mais tarde, uma filosofia geral. (Lettre à Ch. Edmond, 10 de Janeiro de 1852.)
Quanto a mim, o último a chegar e o mais maltratado defensor desse grande movimento que, com razão ou sem ela, chamaram Socialismo, e que não é senão o desenvolvimento da Revolução, não peço a eliminação nem o esmagamento de ninguém. Que a discussão seja livre, e que os meus adversários se defendam: é tudo o que quero. Faço guerra a ideias antiquadas, não a homens antiquados.
Pensava, em 1848, que depois de tantas catástrofes, todas as fórmulas do antigo antagonismo - com o qual Aristóteles e Maquiavel não se deixaram iludir - monarquia, aristocracia, democracia, burguesia, proletariado, etc. já só deviam ter valor como transição...
A Revolução passou ao estado de mito. Cabe-me a mim ser o primeiro a apresentar uma explicação dela. (Dela Just. dans la Rév. Philos Popul.)

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