domingo, setembro 13, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

A CRISE FRANCESA E EUROPEIA

A França esgotou os princípios que a animaram. A sua consciência está vazia, tal como a sua razão. Tudo o que produziu, de há meio século a esta parte, através de escritores famosos, não deixou de prever esta síncope moral, que, finalmente, chegou. Aos profetas de França, responderam os filósofos da Alemanha: de tal modo que, por fim, o destino da nossa Pátria se tornou comum a todos (...)(Philosophie du Pr., prefácio.)
A economia da sociedade transformou-se completamente. Eis os factos. (Lettre à Ch. Edmond, 18 de Outubro de 1852.)
A França está entregue ao monopólio, das Companhias. Eis o regime feudal. Os tecidos, o ferro, o grão, o açúcar, as sedas, tudo está a caminho do monopólio. (Carnets, 4 de Set. de 1852.)
Especuladores... negociantes, caçadores de acções industriais... enfeudados à burocracia... para consolidarem o monopólio e se precaverem, ao mesmo tempo, contra a concorrência, não deixarão de organizar, se isso não for já um facto consumado, uma associação monstra, na qual se encontrarão fundidas e solidarizadas a burguesia capitalista... e toda a gente accionista... Associar, numa vasta solidariedade anónima, os capitais de todos os países, é o que se chama acordo de interesses, fusão de nacionalidades. Que pensam disto os neo-Jaeobinos? (Princ. Féd., Cap. XI.)
A Burguesia está doente, de tanto se encher: como instituição, deixou de existir, dentro da ordem política e da ordem social. No lugar desta palavra, que já ninguém entende, aparece o capital, sinónimo de avareza, e, por oposição ao capital, aparece um termo de necessidade, o assalariado.
O assalariado, surje como nível revolucionário, inventado pelo Capital, que deixa o salário, à mercê dos poderosos...
A propriedade, elevada a despotismo, ao abrigo de insultos vindos de baixo, acredita que nenhum decreto vindo de cima a atingirá. Foi esmagada a anarquia; surgirá o Estado em toda a sua glória...
A França só acredita na força, só obedece aos instintos. Já não tem indignação; parece achar bem o não pensar. Tal povo, tal governo! O poder, que não é iluminado por nenhuma inspiração nacional, não fornece, por sua vez, qualquer ideia válida ao pais. Ele caminha tal como as mesas giram: sem impulsão aparente: podemos considerá-lo uma espontaneidade.
Tal como sucede depois das grandes crises, o horror às discussões e aos sistemas tornou-se tal, que - governados e governantes, partidos vencidos e partido vencedor - toda a gente, sem excepção, fecha os olhos, não quer ouvir, pelo simples aparecimento de uma ideia. Superstição e suicídio: estas duas palavras resumem o estado moral e intelectual das massas. O leme dos acontecimentos está na mão dos práticos e dos homens de acção; para trás, mais uma vez, os ideólogos! Fala-se do isolamento do poder actual, no meio das populações mudas: o caso é que as populações nada têm a dizer ao poder... (Philosoph. du Progr., prefácio.)
Abolição das liberdades comunais e da vida provinciana: abolição do casamento e da família. Fim às individualidades: chega-se igualmente a isso pela transformação do casamento em concubinato, pelo amor livre, pela promiscuidade e pela omnipotência do Estado...
Horror ao trabalho doméstico da mulher, horror à profissão do homem; desenvolvimento da monomania da função.
Hotéis cheios, bairros operários; eis o que há, de ora avante, quanto ao domicílio; um emprego, um quadro; eis o que se apresenta ao homem... Não mais doutrinas, ideias, teorias, sistemas; abaixo a razão; viva o improviso, viva o arbitrário; apalpa-se o pulso à opinião; excitam-na, imprimem-lhe uma direcção; e então VOX POPULI, VOX DEI. (De la Pornocr., notas e pensamentos.)
A política, por fora, é como a opinião por dentro. Ela isola-se, esperando o golpe do destino, escrevendo notas, que dir-se-iam desprovidas de boa fé, se o não fossem, totalmente, de sentido. As potências já não acreditam no equilíbrio europeu. Contra ocidente em revolução, elas invocam a barbárie oriental, a guerra das raças, a absorção das nacionalidades...
Reina sobre toda a Europa uma sombra solene, semelhante à obscuridade de que se rodeavam os oráculos, no fundo dos azinhais e das cavernas...
Contudo... é certo que a democracia - que nao é outra coisa, ao fim de contas, que o partido do movimento e da liberdade - não pode desaparecer da história.
É certo, enfim, que a Europa é uma federação de Estados, que os seus interesses tornam solidários, e que, nesta federação, fatalmente conduzido pelo desenvolvimento do comércio e da indústria, a prioridade de iniciativa e a preponderância pertencem ao Ocidente...
A civilização moderna, à custa de tradições e de exemplos, está irrevogavelmente comprometida na via de uma revolução que nem os precedentes históricos, o direito escrito, a fé estabelecido podem tampouco guiar...
Dizem-nos: - Que publicais sobre a situação presente? - A situação, ei-la: há que fazer face, através da reflexão, à necessidade das coisas; há que recomeçar a nossa educação social e intelectual. E como um partido, fundado com base na própria natureza do espírito humano, não pode morrer, há que dar à democracia a ideia e a bandeira que lhe faltam... (Philos. du Progrés, prefácio.)

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