domingo, setembro 20, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

O TRABALHO, FORÇA ALIENADA

A. A desalienação da força colectiva

O trabalho... é livre por natureza, uma liberdade positiva e interior, e é com base nesta liberdade que tem o direito de reivindicar a sua liberdade exterior... Por definição, aquela está implicado nele por direito. (Justice, le Trav.)
Uma vez apoderada das forças colectivas, a sociedade institui-se em hierarquia. O espírito de igualdade é neutralizado pelo preconceito contrário, que torna invencível a alienação das forças colectivas. (Justice L’État.)
A questão da libertação do trabalho, à qual a gente antiquada já não pode escapar, cria para essa mesma gente uma situação completamente dramática... A sociedade está dividida nas suas camadas profundas. O trabalhador cria, com a revolução: justiça, equilíbrio, libertação. A gente antiquada responde: fatalidade, necessidade, predestinação, hierarquia!
Qual será a saída para este debate?
Para mim, não me restam dúvidas: credo in revolucionem. Mas para uma pergunta precisa, é necessária uma resposta precisa, e eis a minha conclusão: O trabalhador votará a favor do trabalho... mas pedir que o trabalho seja libertado, é pedir ipso facto:
- que a liberdade individual seja respeitada;
- que o equilíbrio dos serviços e dos valores seja estabelecido;
- que a prestação dos capitais se torne recíproca;
- que a alienação das forças colectivas cesse...
- que, acontecendo através de uma transacção amigável, a batalha virá forçosamente. E, vencedor ou vencido, o trabalho imporá a lei ao capital: pois o que assenta na lógica dos factos acontece sempre; contra o direito, nada há no mundo de mais inútil que a vitória. (Justice, Le Travail.)
- O capital a quem o emprega; -O lucro da força colectiva a todos os que concorrem para ela...;
- O trabalho parcelar, combinado com a pluralidade de aprendizagem, numa série de promoções;
- Em duas palavras: a fatalidade da natureza submetida à liberdade do homem.
Eis uma civilização nova, uma outra humanidade. (Justice, Le Travail.)
B. O reconhecimento do valor-trabalho
Capital = Trabalho acumulado

O trabalho efectuado chama-se produto; o produto útil tem o nome de valor; o valor acumulado torna-se, pelo destino reprodutivo, capital, isto é, fermento, meio, ou órgão da produção (n.º 395.)
O capital é trabalho acumulado (n.º 397.)
O salário é ainda o trabalho objectivado (n.º 408.)
O que é o rendimento, a renda, o lucro? Trabalho, ainda trabalho e sempre trabalho. E, perguntar como, sem monopólios, privilégios ou sinecuras, se formarão capitais... é perguntar como acumularão trabalho os trabalhadores (n.º 339.)
Assim, trabalho, produto, valor, salário, são termos correlativos... mas que dão lugar a diferentes especulações.
Do mesmo modo que a divisão do trabalho não compreende só operações simultâneas, mas também todas as operações sucessivas, feitas com um fim comum e para um objectivo idêntico; do mesmo modo, a força colectiva e, consequentemente, a solidariedade, a comparticipação que ela arrasta, não abrange só os trabalhadores em actualidade de serviço, mas também aqueles cujo trabalho consumado e sucessivamente reproduzido se efectuou em intervalos mais ou menos longos. Ora, o capital representa esse trabalho (n.º 403.)
Toda a acumulação de valor se chama capital:... trabalhos de arranjos feitos numa terra, a construção de uma máquina, as ferramentas do artífice, a educação ministrada a um jovem... assim como uma soma em dinheiro amealhado são acumulações de valor e constituem capitais.
Sendo o capital trabalho acumulado, concretizado, solidificado... o antagonismo entre o capital e o trabalho... deve acabar pela sujeição absoluta do capital ao trabalho, e a transformação da indolência capitalista tornar-se função dum comissário de poupanças e distribuidor de capitais. Os verdadeiros capitalistas, aos olhos da ciência e do direito, são os trabalhadores (n.º 396.) (Créat. de l’O., Cap. IV.)

Trabalho = Medida do valor

O produto, uma vez acabado e reconhecido como próprio para satisfazer a necessidade que provocou a sua criação, tem o nome de valor. O valor tem como base a utilidade do produto. (n.º 390.)
Qual será a medida comparativa dos valores?
...A. Smith respondeu:... O trabalho...
Esta resposta parece-nos justa. Ela é o corolário de todas as proposições precedentes...
Não nos deixemos preocupar pelos diversos acidentes de apropriação dos fundos comuns, nem pelo facto, tão mal observado, da desigualdade física, moral e intelectual dos trabalhadores, nem pelas flutuações da oferta e da procura: estas causas da perturbação económica devem ser estudadas à parte e restituídas, pouco a pouco, às leis inflexíveis da ciência... Esta medida não podia existir no estado selvagem, nem no estado bárbaro, nem em qualquer ocasião em que existam negociantes sem controlo. Mas, um dia, será assim. (n.º 409.)
Os economistas aceitaram, como facto convincente, como lei fatal e absoluta da sociedade, inumeráveis acidentes de inaproveitamento, originados pela luta dos fabricantes, pela insuficiência do consumo e pela improvidência dos produtores...
A arte de dissimular as suas necessidades, de exagerar os seus serviços, de lançar a desconfiança entre os produtores, de provocar o pânico entre os consumidores - numa palavra, a arte de mentir pode ter certa utilidade aos olhos da ciência?...
Que se tome este estado de espoliação reciproca como o tipo indestrutível das leis económicas, eis o que a razão não pode aceitar... Digamos que o deplorável resultado da nossa falta de organização é uma perturbação social. (N.ºs 391 e 393, Créat. de l’O., Cap. IV.)
Eu digo que a oferta e a procura, que pretendem ser a única regra dos valores, não são mais do que duas formas cerimoniais, que servem para pôr em evidência o valor como totalidade e o valor de troca e para provocar a sua conciliação...
O valor, considerado na sociedade que os produtores formam, naturalmente, entre eles, pela divisão do trabalho e pela troca, é a razão de proporcionalidade dos produtos que compõem a riqueza. É o que se chama, mais especificamente, valor dum produto; é uma fórmula que indica, com carácter monetário, a proporção deste produto na riqueza geral.
A utilidade fundamenta o valor; o trabalho fixa-lhe a relação; o preço é a expressão que, salvo as aberrações que teremos que estudar, traduz essa relação. Tal é o centro à volta do qual oscila o valor útil e o valor permutável... Tal é a lei absoluta, imutável, que arrasta as perturbações económicas, os caprichos da indústria e do comércio, e que governa o progresso...: O valor constituído... O objectivo da economia social - que eu, por um momento, peço que me permitam distinguir da economia política, ainda que no fundo não devam diferir uma da outra - será promulgá-la e realizá-la em toda a parte. (Contr. Écon., Cap. II.)

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