A ideia de comunidade
O sol, o ar e o mar são comuns; o usufruto destes objectos apresenta o mais elevado grau de comunismo possível. Ninguém pode implantar neles marcos, dividi-los e delimitá-los... Resulta pois, desta primeira observação, uma coisa preciosa para a ciência: que a propriedade é tudo o que se define; a comunidade tudo o que não se define...
Os grandes trabalhos da humanidade participam deste carácter económico das forças da natureza. O uso das estradas, das praças públicas, das igrejas, museus, bibliotecas, etc., é comum. Os encargos com a sua construção são feitos em comum, ainda que a repartição desses encargos esteja longe de ser igual, contribuindo cada um para ela, precisamente, na razão inversa da sua fortuna. Por onde se vê, coisa preciosa a notar, que igualdade e comunidade não são a mesma coisa...
Num restaurante, em que abancam cem pessoas, os comensais estão em contacto e no entanto permanecem isolados.
Donde, deduzo este principio: a comunidade que só atende à matéria, não é uma comunidade. Para eu alcançar o comunismo basta que não me separe mentalmente do que me rodeia...
Resumindo, a comunidade apodera-se de nós na origem, e impõe-se-nos fatalmente, tal como as grandes forças da natureza. Quanto à sua essência, a comunidade opõe-se à definição; ela não é a mesma coisa que igualdade; ela não atende nunca à matéria, e depende totalmente do livre arbítrio...
O importante, para nós, é ver bem como oscila a vida social entre os seus extremos: a propriedade e a comunidade.
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