Ciência da produção e contabilidade económica
O que é a economia política? É a ciência das contas da sociedade; a ciência das leis gerais da produção, da distribuição e do consumo da riqueza. É o conhecimento dos processos gerais, através dos quais a riqueza é criada, aumentada, trocada e consumida na sociedade. (Contr. Écon., cap. X.)
A solução do problema da miséria consiste... em elevar à sua mais elevada expressão a ciência do contabilista, em aumentar as escritas da sociedade, em estabelecer o activo e o passivo de cada instituição... é preciso ter a escrita em dia, isto é, determinar com exactidão os direitos e os deveres, de maneira a podermos, em cada momento, constatar a ordem e a desordem e apresentar o balanço... Assim como, numa empresa, relações novas dão lugar, em cada dia, a novas contas e modificações incessantemente a organização do trabalho, a distribuição dos operários e empregados, o emprego das máquinas, etc., também, na sociedade, novas inteligências, grandes descobertas modificam incessantemente a economia geral. (Conf. dun Révol., cap. XI.)
A economia política, cujo axioma fundamental é a contabilidade. (Carnets, 15 de Jan. de 1852.) ... A economia política... é a filosofia da contabilidade. (Carta a Bergmann, em 4 de Junho de 1847.)
Peço que se estabeleça uma contabilidade de França, a Contabilidade da França, eis toda a questão!...
A França é uma casa de negócios que não tem escrita. (Carnets, 29 de Nov. de 1847.)
O contabilista é, para dizer tudo, o verdadeiro economista, a quem uma súcia de falsos literatos roubou o nome, sem que ele de nada soubesse. (Contr. Écon., cap. X.)
l.º - Os quadros duma contabilidade económica
Falta-nos falar do formulário... que é, para a economia, o que o processo é para a Justiça: quero designar com isto a contabilidade. Além da oposição fundamental entre crédito e débito, compra e venda... a contabilidade, por partidas dobradas, revela-nos uma outra oposição, entre pessoas e coisas. O negociante, depois de ter aberto, para débito e crédito, uma conta a cada uma das pessoas com quem negoceia, abre uma para cada tipo de valor... que classifica em quatro ou cinco categorias... as quais vêem, para liquidação ou inventário, a converter-se numa conta única... exprimindo, para o negociante, o que o economista chama produto bruto e produto líquido... (Contr. Écon., cap. X.)
As questões de crédito público e de impostos são ainda questões de contabilidade comercial, aplicada ao Estado... (Idem.)
Nada é mais fácil do que regular estas contas, de fazer balanço a todos esses valores... desde que todas essas quantidades sejari fracções umas das outras: elas podem representar-se, liquidar-se e substituir-se reciprocamente; trata-se duma especulação da simples aritmética. Cap. des Clas. ouv. Pol., liv. II, cap. VIII.)
2.º - Contabilidade económica, com carácter de previsão e constituição do valor
Ainda agora citei Ricardo, como tendo dado, para um caso especial, uma regra positiva de comparação de valores; os economistas fazem ainda melhor: todos os anos recolhem quadros estatísticos das médias de todos os preços dos artigos... É verdade que esta média chega muito tarde; quem sabe, porém, se não se poderia descobri-la antecipadamente... Será um economista que ousará dizer não?
É de admitir que, num momento dado, a proporção dos valores que formam a riqueza dum país, possa ser, à custa dum inventário, determinada, pelo menos aproximadamente... Este método, aplicado à determinação dos valores, não é, afinal de contas, senão uma questão de contabilidade...
Para tanto um único trabalho deste gênero não bastaria; seriam precisos milhares e milhares de trabalhos semelhantes. (Contr. Écon,, cap. II.)
3.º - Quadros das trocas inter-industriais e variação dos coeficientes técnicos
Todas as indústrias se reúnem, através de relações mútuas, num feixe único.
Todas as produções servem, reciprocamente, de meio e de fim. (Qu’est-ce que la Prop.?, cap. III.)
Supondo... que... por uma feliz combinação de esforços, pela divisão do trabalho, pelo emprego de qualquer máquina, pela direcção mais competente da sua indústria, Prometeu (A Sociedade) encontra meios para produzir num dia o que produzia em dez: o que se seguirá? O produto mudará de lugar, no quadro dos elementos da riqueza; o seu valor relativo será diminuído. Mas este valor não será por isso menos determinado. (Contr. Écon., cap. II.)
4.º - Contabilidade económica
A Revolução, democratizando-nos, lançou-nos na via da democracia industrial... Uma... ideia resultou dai, a da determinação das tarefas e dos salários. Outrora, essa ideia teria sido um escândalo, hoje é de aproveitar...
Para avaliar equitativamente o trabalho diário dum trabalhador, é preciso saber de que se compõe, quais as quantidades que entram na formação dos preços, se não se encontram expressos nele... Não se trata aqui de redução, nem de elevação dos preços e dos salários, mas de uma perequação geral, primeira condição da riqueza. (Cap. Pol., liv. II, cap. VIII.)
5.º - Contabilidade económica e matemática
Aproxima-se o dia em que, estando todo o sucesso condicionado ao cálculo, a economia política professará este aforismo: cabe ao comprador designar a quantidade do produto. Cabe ao fabricante fixar o valor das coisas a partir da quantidade de trabalho.
Então só a dupla fórmula de Smith encontrará plena aplicação:
a) a divisão do trabalho está limitada pela extensão do mercado.
b) O consumo e a produção devem regular-se um pelo outro.
Notar-se-á, sem dúvida, como a ideia fundamental do trabalho nos conduz, através de equações sucessivas, à construção da ciência e lhe dá um carácter matemático. (Créat. de l’O., cap. IV, n.o 394-395.)
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