UM MÉTODO EXPLORADOR:
A ANALISE SÓCIO-POLITICA
É preciso mudar de método. A ciência política não pode ser... senão um ramo da ciência social... Nós concebemos a priori que, sendo o homem um ser moral e livre, vivendo em sociedade e submetido à justiça, na sociedade não pode deixar de se constituir uma ordem, isto é, de haver um governo...(Contr. Pol., cap. III.)
A política, na sua expressão pura ... é o direito imanente da sociedade, a sua ordem interior; numa palavra: a sua economia. Esta política... liberta-se das relações sociais e das revelações da história. (Rév. Sociale, cap. IX.)
O organismo político, tanto em cada uma das fases ou fonnas que o compõem como no seu conjunto, é antinómico. Resulta daqui que ele é essencialmente móvel. O imobilismo, muitas vezes tomado como sinónimo de estabilidade, é tão estranho às sociedades como a inteligência à pedra... Aí está o mistério da vida política. A sociedade, quer avance, quer recue, está sempre em acção, sempre em criação de si própria...
Sendo a mobilidade o resultado dinâmico, no sistema político, das antinomias, sobre as quais assenta, pode dizer-se que ele é autocinético, motor de si próprio, gerador do seu próprio movimento.
Do equilíbrio do sistema político resulta a vida normal do ser colectivo, nação, Estado. Se o equilíbrio for destruido, o movimento não continua por isso menos de modo subversivo. A oposição entre os elementos torna-se antagonismo. O Estado da sociedade torna-se revolucionário. (Contr. Polit., cap. V.)
A sociedade é um vasto sistema de ponderação...
Equilíbrio das forças económicas...
Equilíbrio das comunas, das províncias, das nações. (Justice, Les Biens.)
A. Realidade social do poder político
Até aqui consideramos o governo como uma forma de acção. Não nos interrogamos se esta forma ocultava algo de real...
... Afirmo que a instituição política exprime, não uma convenção, nem um acto de fé, mas uma realidade.
P. -Se toda a manifestação oculta. uma realidade, o que ocasiona a realidade do poder social?
R. -É a força colectiva...
P. -Como é que a força colectiva, fenómeno ontológico, mecânico, industrial, se torna uma força política?
R. - Em primeiro lugar, todo o grupo humano, família, fábrica ... pode ser visto como um embrião social... mas, em geral, não é de grupos como os que acabámos de conceber que nasce a cidade, o Estado.
O Estado resulta da reunião de vários grupos, diferentes na natureza e no objectivo, cada um formado para o exercício duma função distinta e para a criação dum produto próprio, depois reunidos sob uma lei comum e num interesse idêntico. É uma colectividade de ordem superior, na qual cada grupo, formado ele próprio por indivíduo, concorre para o desenvolvimento de uma força nova, que será tanto maior quanto mais numerosas forem as funções associadas, mais perfeita for a harmonia entre estas, mais obstinada for a prestação de esforços, por parte dos cidadãos.
P. -No grupo industrial, a força colectiva nota-se sem dificuldade, comprovada pelo crescimento da produção. Mas, no grupo político, através de que indício a reconheceremos?
R. -Os grupos activos que compõem a cidade diferem entre eles, tanto pela organização como pela ideia e pelo objectivo. Aquilo que os une já não é tanto uma ligação: de cooperação como uma ligação de comutação. A força social terá pois, com carácter, ser essencialmente comutativa; e não será por isso menos real...
P. - Qual a diferença entre a política e a economia?
R. - No fundo, são duas maneiras diferentes de conceber a mesma coisa. Nas condições actuais, a política é a arte equívoca e incerta de estabelecer a ordem numa sociedade onde todas as leis da economia são desconhecidas, todo o equilíbrio destruido, toda a liberdade reprimida, toda a consciência deformada, toda a força colectiva convertida em monopólio. (Justice, l'État.)
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