terça-feira, dezembro 01, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

O IDEO-REALISMO

A. Seu fundamento:
a acção trabalhista, processo criativo serial e relação funcional entre a realidade e a ideia

... A condição por excelência da vida, da saúde e da força num ser organizado é a acção. É pela acção que ele desenvolve as suas faculdades, aumenta a sua energia e atinge a plenitude do seu destino.
Acontece do mesmo modo em relação ao ser inteligente, moral e livre. A condição esencial da existência, para ele, é também a acção, acção inteligente e moral, bem entendido, pois que é sobretudo da ordem intelectual e moral que se trata.
Ora, o que é agir? Para que haja acção, exercício físico, intelectual ou moral, é preciso um meio relacionado com o sujeito actuante, um não-eu que se coloque diante do eu, como lugar e matéria de acção, que lhe resista e o contrarie.
A acção será então uma luta: agir é combater. (La Guerre et la Paix, liv. I, cap. V.) A vida é um combate... combate do homem contra a natureza. (Prem. Mémoire, cap. III.)
O trabalho é a acção inteligente do homem sobre a matéria, com um fim previsto de satisfação pessoal. (Créat de l’O., cap. VI.) É sempre a luta... luta de trabalho e de destreza. (La Guerre et la Paix, concl. geral.) É através dele que se cria ao mesmo tempo a riqueza e a sociedade. (Contr. Êcon., cap. II.) O trabalho é o acto gerador da ciência económica. (Créat. de l’O., cap. IV.) O trabalho é a força plástica da sociedade, a ideia-tipo que determina as diversas fases do seu crescimento e consequentemente o'seu organismo tanto interno como externo. (Créat de l’O., cap. IV.)
O trabalho, considerado sinteticamente nas leis de produção e de organização, cria a justiça. (Créat de l’O., cap. IV.)
O que é destreza e trabalho? O exercício, ao mesmo tempo físico e intelectual, dum ser composto por corpo e espírito. O trabalho não é só necessário à conservação do nosso corpo; ele é indispensável ao desenvolvimento do nosso espírito. Tudo o que possuímos, tudo o que sabemos provém do trabalho; toda a ciência, toda a arte, do mesmo modo que toda a riqueza lhe são devidos. A filosofia não é senão uma maneira de generalizar e de abstrair os resultados da nossa experiência, isto é, do nosso trabalho... Pelo trabalho espiritualizamos cada vez mais a nossa existência... (La Guerre et la Paix, liv. IV, cap. II.)
Já o definimos: acção inteligente do homem sobre a matéria. (Créat. de l'O., cap. IV.)
... A ideia, como as suas categorias, nasce da acção e deve voltar à acção, sob pena de degradação para o agente ... Isto significa que todo o conhecimento, dito a priori... saiu do trabalho e deve servir de instrumento ao trabalho. (Justice, Le Travail.)
A filosofia inteira está oculta no fundo de toda a manifestação natural ou industrial... Pela noss parte, estabelecemos a identidade constante dos fenómenos económicas com a lei pura do pensamento, a equivalência do real e do ideal nos actos humanos...
Seguindo este método do desenvolvimento paralelo da realidade e da ideia, encontramos uma dupla vantagem: em primeiro lugar, a de escapar à censura do materialismo, tantas vezes dirigida aos economistas, para quem os factos são verdade só porque são factos e factos materiais... Os factos só constituem prova segundo a medida da ideia que eles representam...
Por outro lado, já não nos podem acusar de espiritualismo, idealismo ou misticismo: porque admitindo somente como ponto de partida a manifestação exterior da ideia - ideia que ignoramos, que não existe, enquanto ela não se reflecte, como a lu que não seria nada se o sol só existisse num vazio infinito - afastando... toda a pesquisa sobre a substância, a causa, o eu e o nao-eu, limitamo-nos a procurar as leis do ser, e a seguir o sistema das suas aparências tão longe quanto a razão possa chegar.
Sem dúvida que, no fundo, todo o conhecimento pára diante dum mistério: tais são, por exemplo, a matéria e o espírito, que admitimos, um e outro, como duas essências desconhecidas, suportes de todos os fenômenos. Mas não se quer com isto dizer que o mistério seja o ponto de partida do conhecimento, nem o misticismo a condição necessária da lógica; pelo contrário, a espontaneidade da nossa razão tende a repelir perpetuamente o misticismo... (Contr. Écon., cap. IV.)

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