A evolução materialista
Quanto mais interrogo os filósofos contemporâneos, mais fico convencido de que todos se dedicaram exclusivamente a determinar o modo da evolução histórica - noutros termos: o organismo humanitário, o que na civilização pertence ao fatalismo ...
As ideias de Hegel não são outra coisa senão a descrição do organismo intelectual que governa o homem e a natureza, do mesmo modo que a sua liberdade não é outra senão a força cega que impele este organismo... Hegel dedica-se pois a descrever o movinento orgânico do espírito, do qual deduz em seguida o organismo da natureza e o da sociedade: o que equivale a dizer que ele apresenta a teoria da fatalidade natural e social de acordo com a teoria da fatalidade da ideia... Aceitemos pois, como teoria da necessidade histórica, todo o sistema de Hegel: eu pergunto apenas qual é o lugar da liberdade. Provavelmente, ele reserva-o para o pormenor, para aquela parte acidental que, primeiramente, tinha julgado indigna da sua atenção. Não, não há nenhuma missão atribuída à liberdade, no sistema de Hegel; portanto, nenhum progresso. Hegel consola-se com esta perda, do mesmo modo que Spinoza. Chama liberdade ao movimento orgânico do espírito, dando ao da natureza o nome de necessidade. No fundo, diz ele, estes dois movimentos são idênticos: deste modo, acrescenta a filosofia, a mais elevada liberdade, a maior independência do homem consiste em saber-se determinado pela ideia absoluta, ciência ou consciência.
A mais elevada liberdade política consiste, para o cidadão, em saber-se governado pelo poder absoluto: o que deve pôr à vontade os partidários da ditadura perpétua e do direito divino.
Tudo é... para o alemão, evolução orgânica, fatalidade, morte; no seu sistema, os destinos dos indivíduos (estão) absorvidos pelo organismo colectivo.
Não foi assim, da nossa parte, que concebemos a liberdade. A liberdade, de acordo com a definição revolucionária, é apenas a consciência da necessidade; não é a necessidade do espírito, em desenvolvimento conjunto com a necessidade da natureza: é uma força de colectividade que abrange, ao mesmo tempo, a natureza e o espírito, e que, como tal, é senhora de negar o espírito, de se opor à natureza, de a submeter, de a destruir e de se destruir a si própria; que recusa, para si, qualquer organismo; cria para si, pelo ideal e pela justiça, uma existência divina, cujo movimento é consequentemente superior ao da natureza e ao do espírito; e incomensuravelmente com um e outro: o que é totalmente diferente da liberdade hegeliana... (Justice, Prog. et Décadence.)
b) O evolucionismo místico
A teoria de Pierre Leroux, segundo a qual cada termo da série é superior ao que o precede e inferior ao que o segue, constitui um progresso. Ele baseou esta ideia no reino animal, onde os géneros e as espécies se escalonam segundo uma razão crescente; de maneira que, a cadeia não pode voltar atrás e tende para infinito. É a negação da morte... Como se, depois de se ter desenvolvido na criação, o absoluto devesse, um dia, dobrar-se sobre si próprio...
Homem de religião... viu bem que o cristianismo estava acabado... pelo menos para a porção da sociedade que raciocina... Concluiu por isso que a essa forma de religião devia suceder uma outra, e foi à descoberta dessa outra religião que ele dedicou a, sua existência...
O progresso,... conduz-nos a Deus e à outr-a vida. Fora disto, o fenômeno fica sem fim, a teoria é truncada, desprovida de sentido. É o que Jean Reynaud, em Terra e céu... demonstra, através das mais sublimes considerações da geografia, da astronomia, da embriegenia e de todos os recursos do cálculo diferencial e integral...
Tal é agora o dilema que, graças a estas inteligências progressistas, nos desventra com os seus dois chifres: ou a fatalidade pura, tal como se encontra no fundo de todas as filosofias da história - de acordo com Aristóteles, Maquiavel, Vico, Herder, Hegel, Saint-Simon, Fourier e seus discípulos - ou a religião... uma humanidade pecadora e desprezível, esperando de Deus a sua explaçao e a sua libertação...
O progresso que nos mostraram escapa-nos, pois, sempre: é organicismo, vitalismo, psiquismo, é tudo o que se quiser; não é liberdade, não é moral... uma face da teologia cristã e ... o materialismo de certos humanistas... é ainda um simulacro...
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