terça-feira, dezembro 29, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

A moral, realidade social

Imanência e realidade da justiça na humanidade, tal é o grande ensinamento... A moral... expressão da liberdade e da dignidade humana, existe por si própria; ela não depende de nenhum princípio; domina toda a doutrina, toda a teoria...
É no comando da vossa consciência que deveis procurar a garantia das vossas ideias e até a prova da vossa certeza...
A justiça é em vós ao mesmo tempo realidade e pensamento soberano... (La Guerre et la Paix, concl. geral.)
A moral - e a sua correlativa, a estética - é coisa sui generis: nao é um produto do pensamento puro ou da razão, como a teologia... É uma revelação que a sociedade, o colectivo, faz ao homem, ao individuo. - Torna-se impossível deduzir a moral, quer da higiene, quer da economia, quer da metafísiea ou teodiceia, como o fizeram, sucessivamente, os materialistas, os utilitaristas, os cristãos dogmátieos, tais como Bossuet, etc. A moral resulta doutra coisa. Esta outra coisa, a que uns chamam consciência, outros razão prática, etc., é, para mim, a essência social, o ser colectivo que nos contém e que nos penetra e que, pela sua influência, pelas suas reve,lações, completa a constituição da nossa alma...
Não cometam essa grande imoralidade de fazer da moral uma coisa noológica. Seriam forçados, mais tarde ou mais cedo, a reconhecer que essa pretensa moral não tem, nem principio, nem valor, nem objectivo, nem função. (Lettre à Cournot, 31 de Outubro de 1853.)

C. Estética e moral social

Aquilo que a moral revela à consciência sob a forma de normas, a estética, tem por objectivo mostrá-la aos sentidos sob a forma de imagens... São dois aspectos da nossa educação, ao mesmo tempo sensíveis e intelectuais, que se tocam na consciência e que só diferem no órgão ou na faculdade que lhes serve de veículo. Aperfeiçoar-se pela justiça... desenvolvendo-a na sua verdade íntegra, tal é o objectivo indicado ao homem pela moral. Aperfeiçoar-se pela Arte, depurando incessantemente, à semelhança da nossa alma, as formas que nos rodeiam, tal é o objectivo da estética. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
O que é a arte e qual é o seu destino social?
Uma representação idealista da natureza e de nos proprios, com fim ao aperfeiçoamento fisico e moral da nossa espécie... (Du Principe de l'Art, cap. XII.)
O objectivo da Arte é ensinar-nos a juntar o agradável ao útil, em todas as coisas da nossa existência, e, através disso, contribuir para a nossa dignidade. (Du Principe de l'Art, cap. XXIII.)
A Arte, isto é, a procura do belo, a perfeição do verdadeiro no homem, na mulher e nos filhos; nas ideias, discursos, acções; nos produtos: tal é a última evolução do trabalhador... A estética e, acima da estética, a moral: eis a pedra angular do edifício económico. (Contr. Écon., cap. XIII.)
A Arte, como a literatura, é a expressão da sociedade, e quando não existe para o seu aperfeiçoamento, existe para a sua ruina. (Pr. Art., cap. X.) A Arte deve participar no movimento da sociedade, provocá-lo e segui-lo. Foi por ter menosprezado este destino da Arte, por o ter reduzido somente à expressão duma idealidade quimérica, que a Grécia perdeu a compensação das coisas e o ceptro das ideias. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
É possível uma estética, uma teoria da arte?
- A Arte é a própria liberdade, restabelecendo à sua vontade, e em virtude da sua própria glória, a fenomenalidade das coisas, executando variações s;obre o tema concreto da natureza.
- A Arte, assim como a liberdade, tem pois como matéria o homem e as coisas; como objectivo, reproduzi-los ultrapassando-os; como fim último, a justiça. Para decidir da beleza das coisas - noutros termos: para as idealizar - é preciso conhecer as relações entre as coisas... o ideal é dado pelo real; ele tem a sua base, a sua causa, a sua força de desenvolvimento, no real.
- A Arte é solidária com a ciência e a justiça: eleva-se com elas e declina ao mesmo tempo que elas. (Justice, Prog. et Décadence.)

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