sexta-feira, janeiro 01, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

O homem antagonista

a) A sua natureza compósita

A unidade de todo o ser é uma unidade de composição... O ser... é um grupo...
Do mesmo modo que na lógica a ideia de... progresso se traduz na série; do mesmo modo, na antologia, ela tem como sinónimo o grupo. Quanto mais numerosos e variados forem os elementos e as relações que concorrem para a formação do grupo, mais força nele se encontra, mais realidade obtem o ser... O homem vivente é um grupo. (Philos. du Progrès, 1e lettre.) O homem, ser organizado, é um composto de força. (La Guerre et la Paix, liv. II, cap. VII.)
Há, na humanidade, o ser fatal e o ser progressivo, inseparáveis, mas distintos; opostos, antagonistas, mas para sempre irredutlveis. Na qualidade de criaturas dotadas duma espontaneidade irreflectida e involuntári.a, submetidas às leis dum organismo físico e social, regulado para toda a eternidade, imutável nos seus termos, irresistivel no seu conjunto, e que se completa e se realiza por desenvolvimento e crescimento; enquanto vivemos, crescemos e morremos, trabalhamos, trocamos, amamos, etc., somos o ser fatal, in quo vivimus, movemur et sumus. Somos a sua subsistência, a sua alma, o seu corpo, o seu rosto, na mesma qualidade e nem mais nem menos que os animais, as plantas e as pedras.
Enquanto observamos, reflectimos, aprendemos e agimos em consequência, que submetemos a nós a natureza e nos tornamos senhores de nós próprios, somos o ser progressivo, somos homens. (Contr. Écon., cap. XI.)
Há o homem ele-próprio; isto é, a vontade e a consciência, o livre arbítrio e a lei, opostos num antagonismo perpétuo. O homem está em guerra om ele próprio. (Prem. Mémoire, cap. I.)
Não menosprezo, nem o facto do antagonismo... assim como a necessidade de reconciliar o homem com ele próprio; toda a minha filosofia não é mais que uma perpetuidade de reconciliações. Reconheçam que a divergência da nossa natureza é o preliminar da sociedade, ou melhor: o material da civilização. Pois aqui têm justamente esse caso - mas, notem-no bem, o caso indestrutlvel, a que procuro o sentido. Estaríamos certamente muito perto de nos entendermos, se vós, em vez de considerardes a dissidência e a harmonia das faculdades humanas como dois períodos distintos, definidos e consecutivos na história, consentisseis comigo em ver nestes unicamente as duas faces da nossa natureza, sempre adversas, sempre em obra de reconciliação, mas nunca totalmente reconciliadas. Numa palavra: tal como o individualismo é o facto primordial da humanidade, a associação é o termo complementar desta; mas ambos estão em manifestação incessante, tal como sobre a terra a justiça é eternamente a condição do amor...
O homem, agregado do universo, resume e sincretiza na sua pessoa todas as virtualidades do ser, todas as cisões do absoluto; ele é o vértice onde estas virtualidades, que só existem pela sua divergência, se reúnem em feixe, mas sem se penetrarem nem se confundirem. O homem é pois ao mesmo tempo, devido a esta agregação, espírito e matéria, espontaneidade e reflexão, mecanismo e vida, anjo e besta...
O homem é tirano ou escravo pela vontade, antes de o ser pela fortuna... (Contr. Écon., cap. VIII.)

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