quarta-feira, abril 14, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

poliandria (2), prostituição, castração, reclusão, aborto, infanticídio (3).
Provada a insuficiência de todos estes meios resta a proscrição.
Infelizmente a proscrição, exterminando os pobres, faria que aumentasse a proporção. Se o lucro tirado do produto pelo capitalista for somente igual ao vigésimo do que produz (segundo a lei é igual ao vigésimo do capital), conclui-se que vinte trabalhadores apenas produzem por 19 porque há um entre eles que se chama proprietário e que come a parte de dois. Supunhamos que o vigésimo trabalhador, o indigente, é morto; a produção do ano seguinte encontrar-se-á diminuída de um vigésimo; por consequência, terá que o 19.º ceder a sua parte e perecer. Porque como não é o vigésimo do produto de 19 mas sim o vigésimo do produto de 20 (ver 3.ª proposjção) que deve ser pago ao proprietário, é um vigésimo mais um quadricentésimo do seu produto que cada trabalhador sobrevivente deve ceder; noutros termos, é um homem em dezanove que é preciso suprimir Portanto, com a propriedade, quanto mais pobres se matam mais renascem, em proporção.
Malthus, que tão sabiamente provou que a população cresce numa progressão geométrica, enquanto que a produção apenas aumenta em progressão aritmética, não observou esse poder pauperificante da propriedade. Sem esta omissão teria compreendido que antes de procurar reprimir a nossa fecundidade é preciso começar por abolir o direito de lucro, porque onde esse direito é tolerado há sempre demasiados habitantes, qualquer que seja a extensão e riqueza do solo.
Perguntar-se-á, talvez, que meio eu proporia para manter o equilíbrio da população; porque cedo ou tarde esse problema deverá ser resolvido. Esse meio, o leitor permitir-me-á não o nomear aqui.
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(2) Poliandria, pluralidade de maridos.
(3) O infanticídio acaba de ser publicamente pedido em Inglaterra, numa brochura cujo autor se intitula discípulo de Malthus. Propõe um massacre anual dos inocentes em todas as famílias cuja progenitura ultrapasse o número fixado pela lei: e pede que um cemitério magnífico enfeitado de estátuas, matas, jorros de água, flores, seja destinado à sepultura especial das crianças a mais. As mães iriam a esse lugar de delícias sonhar com a felicidade dos pequenos anjos e, muito consoladas, voltariam para fazer outros que, por sua vez, para aí seriam enviados.
Porque não é útil dizer o que não se prova: ora, para expor em toda a sua verdade o meio de que falo, ser-me-ia preciso nada menos que um tratado. É qualquer coisa de tão simples e de tão grande, de tão comum e tão nobre, de tão verdadeiro e tão desconhecido, de tão santo e de tão profano que nomeá-lo sem desenvolvimento e provas só serviria para inspirar desprezo o incredulidade. Que nos baste uma coisa: estabeleçamos a igualdade e veremos aparecer esse remédio; porque as verdades sucedem-se, da mesma maneira que os erros e os crimes.

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