SÉTIMA PROPOSIÇÃO
A propriedade é impossível porque ao consumir o que recebe o perde, ao amealhar anula-o, ao capitalizar volta-o contra a produção
I. - Se considerarmos, com os economistas, o trabalhador como uma máquina viva, o salário que lhe é entregue aparecer-nos-á como a despesa necessária para o sustento e reparação dessa máquina. Um chefe de manufactura que tem operários e empregados a 3, 5, 10 e 15 francos por dia, e que atribui a si próprio 20 francos pela sua alta direcção, não considera tudo o que desembolsa-como perdido, porque sabe que lhe virá ter sob a forma de produto. Assim, trabalho e consumo reprodutivo são a mesma coisa.
O que é o proprietário? É uma máquina que não funciona ou não produz nada, ao funcionar para seu prazer e segundo o seu capricho.
O que é o consumo do proprietário? É consumir sem trabalhar, consumir sem reproduzir. Porque, mais uma vez, o que o proprietário consome como trabalhador reembolsa-o; não dá o seu trabalho em troca da sua propriedade porque deixaria, por isso mesmo, de ser proprietário. Consumindo como trabalhador, o proprietário ganha ou pelo menos nada perde, visto que se cobre; a consumir como proprietário empobrece. Portanto, para gozar da propriedade é preciso destruí-Ia; para ser, efectivamente, proprietário é preciso deixar de ser proprietário.
O trabalhador que consome o seu salário é uma máquina que se separa e reproduz; o proprietário que consome o seu lucro é um abismo sem fundo, uma areia que se rega, uma pedra que se semeia. Tudo isso é tão verdade que o proprietário, não querendo ou não sabendo produzir e sentindo bem que à medida que usa da sua propriedade a destrói irreparavelmente tomou o partido de fazer produzir alguém em seu lugar: é o que a economia política, de justiça imortal, chama produzir pelo seu capital, produzir pelo seu instrumento. E é o que é preciso chamar produzir por um escravo, produzir como ladrão e tirano.
Ele, o proprietário, produzir!... O Ladrão também pode dizer: Eu produzo.
Ao consumo proprietário foi chamado luxo, por oposição ao consumo útil. Depois do que acaba de ser dito compreendesse que possa reinar um grande luxo numa nação sem que por isso seja mais rica; que será mesmo tanto mais pobre quanto mais luxo aí se vir e vice-versa. Os economistas, é preciso fazer-lhes essa justiça, inspiraram um tal horror ao luxo que hoje um número muito grande de proprietários, para não dizer quase todos, trabalham, acumulam, capitalizam, com vergonha da sua ociosidade. É passar de mal para pior.
Não saberia redizê-lo em demasia: o proprietário que julga merecer os seus lucros trabalhando e que recebe salários pelo seu trabalho é um funcionário que se faz pagar duas vezes: eis toda a diferença que há entre o proprietário ocioso e o proprietário que trabalha. Pelo trabalho o proprietário só produz os salários, não produz os lucros. E como a sua condição lhe oferece uma imensa vantagem para se dedicar às funções mais lucrativas pode dizer-se que o trabalho do proprietário ainda é mais prejudicial que útil à sociedade. Faça o proprietário o que fizer é uma perda real que as suas funções salariadas não reparam nem justificam e que aniquilaria a propriedade se ela não fosse constantemente reparada por uma produção estranha.
II. - O proprietário que consome aniquila, pois, o produto: é bem pior quando decide amealhar. As coisas que põe de lado passam para um outro mundo; não se revê mais nada, nem mesmo o caput mortuum, o lixo. Se existissem meios de transporte para a lua e desse na cabeça aos proprietários levarem para lá as suas economias, ao fim de um certo tempo transportariam para o satélite o nosso planeta terráqueo.
O proprietário que economiza impede os outros de gozarem sem gozar ele próprio; para ele, nem posse nem propriedade. Como o avaro, esconde o tesouro: não se usa dele. Que deleite os olhos, que se deite ao pé dele, que se deixe dormir, abraçando-o: faça o que fizer os escudos não multiplicam escudos. Nada de propriedade sem gozo, nada de gozo sem consumo, nada de consumo sem perda da propriedade tal é a necessidade inflexível na qual o julgamento de Deus colocou o proprietário. Maldição sobre a propriedade!
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