sábado, maio 15, 2010

Com requintes de sordícia

A estratégia foi bem definida. Aproveitar o adormecimento geral suscitado pelo destaque mediático dado à visita do Papa a Portugal e ir dando as más notícias aos bocadinhos. E até a tolerância de ponto que os funcionários públicos não pediram serviu para evitar conversas indesejáveis. As notícias têm um impacto que se vai diluindo no tempo.

E hoje sabemos que a verdade não foi toda dita. Ao contrário do inicialmente anunciado,
O imposto especial agravado de 1,5 por cento abrangerá todos os salários acima de 1285 euros. O agravamento fiscal sobre o consumo de bens essenciais foi de 20 por cento. As entradas na função pública foram congeladas indefinidamente. Os custos do corte no défice pretendido foram repartidos na proporção de 3 para 1 entre famílias e empresas. Finalmente, como forma de agravar uma recessão que as medidas anteriores aceleram, PS e PSD terão acordado facilitar ainda mais os despedimentos, o que, juntamente com a conta das parcerias público-privadas que ainda não chegou, faz antever novo apertão para breve. Flexibilizar despedimentos tem como consequência inevitável a diminuição geral do nível de salários e este a diminuição da base de incidência de impostos, logo, a necessidade de novo agravamento fiscal que satisfaça determinado objectivo orçamental. E que compromete o crescimento económico e a criação de emprego já comprometidos pelo choque fiscal actual, ainda não totalmente desvendado.

Ao fundo, lá atrás, ficam as eleições, uma fraude gigantesca em face dos programas eleitorais que apenas serviram de engodo para caçar votos. Ao fundo, lá adiante, uma tragédia de contornos incalculáveis. E, diante dos nossos olhos, um par de intrujões vai-se recreando em revelações a conta-gotas sobre tudo o que vão cozinhando à margem do Parlamento, medindo as palavras para evitar convulsões sociais e a penalização eleitoral que vão fazendo por merecer. Venha o próximo corte, venha a próxima revelação macabra. A espiral de regressão continua no próximo anúncio.
É já a seguir.

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