segunda-feira, maio 17, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

É uma necessidade amar a mulher e os filhos: é um dever protegê-los e sustentá-los, é um direito ser por eles amado preferivelmente a qualquer outro. É de justiça, a fidelidade conjugal; o adultério é um crime que lesa a sociedade.
É uma necessidade trocar os nossos produtos por outros produtos: é um direito que essa troca seja feita com equivalência e como consumimos antes de produzir seria um dever, se dependesse de nós, que o último produto seguisse o último consumo. O suicídio é uma falência fraudulenta.
É uma necessidade cumprir a nossa tarefa segundo as luzes da nossa razão; é um direito conservar o nosso livre arbítrio; é um dever respeitar o dos outros.
É uma necessidade ser apreciado pelos nossos semelhantes; é um dever merecer os seus elogios; é um direito ser julgado pelas obras.
A liberdade não é contrária aos direitos de sucessão e testamento: contenta-se em vigiar para que a igualdade não seja violada. Optem, diz-nos, entre duas heranças, não acumulem nunca. Está por refazer toda a legislação respeitante a transmissões, substituições, adorações e, se ouso empregar a palavra, coadjutorias.
A liberdade favorece a emulação e não a destrói: na igualdade social a emulação consiste na execução em condições iguais, a recompensa está toda em si própria: ninguém sofre pela vitória.
A liberdade aplaude a devoção e honra os seus sufrágios: mas pode passar sem ela. Basta a justiça ao equilíbrio social; a devoção é subrogação. No entanto, feliz do que pode dizer: Eu consagro-me (1).
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(1) Numa publicação mensal cujo primeiro número acaba de aparecer com o título de O Igualitário, coloca-se a devoção como princípio de igualdade: é confundir todas as noções. A devoção por si própria supõe as maiores desigualdades; procurar a Igualdade na devoção é confessar que a igualdade é contra a natureza. A Igualdade deve ser estabelecido sobre a justiça, o direito, princípios evocados pelo próprio proprietário: de outra maneira, nunca existirá. A devoção é superior à justiça: não pode ser imposta como lei porque a sua natureza não exige recompensa. Claro, seria de desejar que toda a gente reconhecesse a necessidade da devoção e o pensamento de O Igualitário é um exemplo muito bom; infelizmente não pode conduzir a nada. Que responder, com efeito, a um homem que vos diz: Não quero consagrar-me?» Serã preciso obrigá-lo? Quando e devoção é forçada chama-se opressão, servidão, exploração do homem pelo homem. Foi assim que os proletários se consagraram à propriedade.

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