quinta-feira, maio 20, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

VII. - Os produtos só se compram com produtos: ora sendo a condição de toda a troca a equivalência dos produtos, o benefício é impossível e injusto. Observem esse princípio da mais elementar economia e desaparecerão do meio de nós a miséria, o luxo, a opressão, o vício, e o crime, assim como a fome.
VIII. - Os homens estão associados pela lei física e matemática da produção antes de o serem pelo seu pleno acordo: portanto, a igualdade de condições é justa, quer dizer, de direito social; a estima, a amizade, o reconhecimento apenas de direito equitativo ou proporcional.
IX. - A associação livre, a liberdade que se limita a manter a igualdade nos meios de produção e a equivalência nas trocas é a única forma possível de sociedade, a única justa, a única verdadeira.
X. - A política é a ciência da liberdade: o governo do homem pelo homem, qualquer que seja o nome que se lhe atribui, é opressão; a maior perfeição da sociedade encontra-se na união da ordem e da anarquia.
Chegou o fim da antiga civilização; a face da terra vai renovar-se sob um novo sol. Deixemos acabar uma geração, deixemos morrer no deserto os velhos prevaricadores: a terra santa não cobrirá os seus ossos. Homem jovem que a corrupção do Século indigno e o zelo da justiça devora, se a pátria vos é querida e se o interesse pela humanidade vos toca, abraçai a causa da liberdade. Rejeitai o vosso velho egoísmo, mergulham no fluxo popular da igualdade, nascendo; aí a vossa alma ganhará uma seiva e vigor desconhecidos: o vosso génio enfraquecido reencontrará uma energia indomável: o vosso coração, talvez já cansado, rejuvenescerá. Tudo mudará de aspecto perante os vossos olhos aperfeiçoados: sentimentos novos farão nascer em vós novas ideias; religião, moral, poesia, arte, linguagem, aparecer-vos-ão sob uma forma maior e mais bela; e doravante, certos da vossa fé, entusiasmo com reflexão, saudareis a aurora da regeneração universal.
E vós, tristes vítimas de uma odiosa lei, vós que um mundo trocista despoja e ultraja, vós, cujo trabalho foi sempre sem fruto e o repouso sem esperança, consolai-vos, as vossas lágrimas estão contadas. Os pais semearam na aflição, os filhos colherão na alegria.
Oh Deus de liberdade! Deus de igualdade! Deus que me tinhas posto no coração o sentimento da justiça antes que a minha razão o compreendesse, escuta a minha prece ardente. Foste tu que me ditaste tudo o que acabo de escrever, Formaste o meu pensamento, dirigiste o meu estudo, encheste o meu espírito de curiosidade e o meu coração de sentimentos a fim de publicar a tua verdade perante o senhor e o escravo. Falei segundo a força e o talento que me deste; compete-te acabar a tua obra. Sabes se eu procuro o meu interesse ou a tua glória, oh Deus de Liberdade! Ah! pereça a minha memória e que a humanidade seja livre: que, enfim, eu veja na minha obscuridade o povo instruido; que o esclareçam nobres professores; que o guiem corações desinteressados. Se podes abrevia o tempo da nossa prova; anula na igualdade o orgulho e a avareza; confunde essa idolatria da glória que nos mantém na abjecção; ensina a essas pobres crianças que no seio da liberdade já não há heróis nem grandes homens. Inspira ao poderoso, ao rico, a esse de que os meus lábios nunca pronunciarão o nome diante de ti, o horror das suas rapinas; que seja o primeiro a pedir para ser admitido na restituição, que só a prontidão do seu remorso faça com que seja absolvido. Então, grandes e pequenos, sábios e ignorantes, ricos e pobres unir-se-ão numa fraternidade inefável; e todos juntos, cantando um novo hino, reerguerão o teu altar, Deus de liberdade e de igualdade.

FIM

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