terça-feira, junho 29, 2010

[Reino Unido] "Tudo o que estes presos necessitam é saber que você ainda está sendo a voz dos sem voz"

[A seguir entrevista com a britânica Sarah Gisborne, ex-presa animalista. Nesta conversa ela fala como começou a sua luta pela libertação dos animais e alguns aspectos da sua passagem pela prisão.]

Pergunta > Quais foram as acusações contra você?

Sarah Gisborne < As acusações foram conspiração para causar danos a oito carros de pessoas relacionadas com a Huntingdon Life Sciences [laboratório que tortura e mata centenas de animais todos os dias em experimentos], ou de pessoas que tinham fortes laços com eles.

Fui detida em julho de 2004. Em novembro me enviaram para a prisão de Holloway. Em fevereiro de 2005 fui condenada a seis anos e meio, aí eu já havia me declarado culpada (bem... não tinha muita escolha... quando me pegaram estava coberta de diluente de pintura para danificar os carros...). Vi minha condenação ser reduzida para cinco anos e meio no tribunal de apelações. Depois fui transferida para a prisão de Cookham Wood, em Kent.

Pergunta > E como tudo isso começou para você?

Sarah < Bem, anos atrás, quando era pequena, estava passeando com o meu cão e olhando os pescadores, pescando junto do rio, aí tudo isso começou a tornar-se muito desagradável pra mim... Até mesmo passei a vê-los em sonhos, e sempre de forma angustiante. Sempre tinha pesadelos sobre peixes, quando os tiravam da água... Esse foi o começo, o momento em que percebi quanto os meus padrões de vida eram diferentes das pessoas que me rodeavam. Minha mãe, nessa época, nos trouxe 12 galináceos que viveram entre nós, até que morreram de velhice.

Naturalmente, não comecei a me envolver em campanhas quando tinha 7 anos, isso levou algum tempo, foi em 1999, quando já 34 anos. Ainda que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde acabasse por tentar dar um passo mais além para aliviar a frustração que ardia e palpitava dentro de mim. Vi um anúncio de uma manifestação que iria acontecer contra uma granja de cobaias (coelhos das índias) em Staffordshire. Fui, vi aquilo e tomei uma decisão. Aquilo era para mim, era o que tinha de fazer também.

Pouco a pouco fui conhecendo mais e mais lutas e campanhas, como por exemplo, as campanhas para fechar a Huntingdon Life Sciences. E assim me tornei uma ativista efetivamente. Primeiro, fui para a prisão por roubar produtos farmacêuticos da marca Roche (relacionados com a HLS). Eu e mais alguns fomos condenados por isso com um ano de prisão. Nesse mesmo ano voltaram a me condenar por estourar os vidros da casa do irmão de Brian Cash (o diretor da HLS), em North Yorkshire, juntamente com duas outras pessoas. E então veio a última condenação, que também foi a mais longa.

Vou ser sincera, a prisão pode ser frustrante, você se sente sozinha e muitíssimas mais coisas, mas às vezes isto traz inesperadas coisas boas. Bem, lá eu conheci a pessoa que agora é minha companheira.

Pergunta > Como você se encontra desde que saiu da prisão e o que está fazendo atualmente?

Sarah < Quando chega o dia de deixar para trás as portas da prisão tudo se converte numa mistura de emoções: alegria, expectativa, nervosismo, pôr os pés na terra...

Comecei a trabalhar com cavalos resgatados e também ajudei num centro local de resgate de gatos. Também encontrei uma nova amiga, um coelho fêmea que vive comigo em casa, é divertidíssima e me faz rir muito. Marion e Mark, dois amigos, tinham muito gentilmente cuidado do meu cavalo.

Estou neste momento à procura de trabalho, então se alguém precisar de uma condutora ou de uma cuidadora de animais, eu sou a garota que eles procuram. Considerarei qualquer oferta.

A transição da prisão para a vida normal em tua casa pode ser dura, especialmente se o que você conhecia já não está mais lá, e esse é o ponto em que a ajuda da família, amigos ou o parceiro é vital. Depois de vários anos atrás das grades, você se torna um ser institucionalizado.

Visito todos os meus amigos encarcerados, que tristemente são poucos visitados e estou tentando começar o meu próprio negócio do cuidado animal, embora esta seja a pior época do ano para isso.

Se você levar no coração a luta pela justiça isso não vai mudar você, após alguns anos na cadeia. A maioria das pessoas que estão lá por tentar acabar com o sofrimento dos animais, já tinham estado lá em ocasiões anteriores. O apoio que recebi e generosidade foram incríveis e cada palavra solidária me tornou mais forte. OBRIGADO!

Os companheiros que agora mesmo estão na prisão são pessoas muito especiais e um mundo sem eles lutando pela liberdade dos outros, é um mundo pior. A prisão não é sequer o pior que pode acontecer com você, tudo é uma questão de perspectiva. Todos temos prioridades e seria bom para todos nós, que o apoio aos presos fosse uma destas prioridades, assim como continuar lutando contra a injustiça, amanhã e sempre.

E pelos presos, por favor, nos esforcemos para fazer algo por eles, como por exemplo uma manifestação com o seu grupo local. Tudo o que estes presos necessitam é saber que você ainda está sendo a voz dos sem voz. Então, façam o que puderem, vocês marcarão a diferença.

Estou orgulhoso de quem sou e do que sou. Boa sorte a todos!

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

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